A jovem cineasta brasileira Beatriz Seigner, 30, em seu segundo longa-metragem, nos oferece um filme sublime, cheio de ousadia e repleto de alegorias. A começar pelo set de filmagem, uma localidade real chamada “ilha da fantasia” que emergiu na confluência de rios da Amazônia há pouco mais de duas décadas. Situada na tríplice fronteira Colômbia-Brasil-Peru, próxima à cidade de Letícia, a ilha tornou-se o refúgio ideal para famílias que foram obrigadas a abandonar suas vidas e cidades em razão do longo conflito entre o governo colombiano, os grupos paramilitares de direita e os guerrilheiros das Farcs.

Créditos: Divulgação

Cena do filme

 

Naquele não-lugar, famílias aos pedaços tocam a vida em meio às marés das águas amazônicas que lhes afogam os alicerces. Sobram luto, fantasmas e esperança. Nesse recanto onírico e pra lá de concreto de uma América Latina que não queremos ver, passa-se a história de uma mãe em busca de seu companheiro – jurado de morte pelos paramilitares – que desapareceu junto com sua filha.

Entre os atores, com exceção da atriz colombiana Marileyda Souto (que faz a protagonista, Amparo) e do ator brasileiro Enrique Diaz (Adão, o pai desaparecido), todos os demais são amadores, muitos deles interpretando a si mesmos e moradores da “ilha da fantasia”.

Por fim, impossível deixar de dizer que “Los Silencios” nos remete ao delirante “Fitzcarraldo”, (1982) de Werner Herzog. Só que com sinais invertidos. Enquanto no filme do cineasta alemão a mesma Amazônia serve de palco para a ambição fáustica de um maestro (e de um cineasta!) inebriado com sua potência masculina, no filme de Beatriz Seigner o que aflora é a silente resiliência feminina tão frequente em tantas mães como Amparo, cuja única alternativa de vida é abraçar os filhos, conviver com os ausentes e seguir em frente.

Veja o trailer: https://youtu.be/gdOv7O_l4Cg

Ficha técnica
Título original: Los Silencios
Ano de produção: 2018
Roteiro e Direção: Beatriz Seigner
Em cartaz no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte

 

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