Os evangélicos, mais precisamente os pentecostais, acreditariam ser detentores de uma verdade – ou melhor, da verdade, revelada estritamente pela Bíblia – e creem experimentar a dimensão do milagre de tal forma que tentar dialogar sobre política com eles sem partilhar da mesma convicção ou, ao menos, sem reconhecer-lhes essa condição, seria perder tempo.

“Não dá pra brigar com os pentecostais. Na lógica deles, eles são imbatíveis. Porque o que pensam é uma questão de fé”, diz o pastor pentecostal Ariovaldo Ramos. “Se os evangélicos acharem um inimigo comum, acabou. E foi isso que a direita fez que acreditassem (que a esquerda era o inimigo)”, proclama o líder religioso, convidado a participar do 1º Encontro de Evangélicos e Evangélicas do PT, na tarde desta sexta-feira, em São Paulo.

Mas, será mesmo?

O professor de Ciência da Religião Edin Abumanssur, da PUC-SP, que já foi pastor presbiteriano e ainda se professa protestante, dirigindo-se à platéia com a expressão “irmãos e irmãs”, tem sérias dúvidas quanto a tal conclusão.

Os institutos de pesquisa fizeram análises equivocadas, a partir de cruzamento de dados, e alegaram erroneamente que os evangélicos elegeram Bolsonaro, na opinião de Edin.

“Evangélicos votam pelas mesmas razões que o restante da sociedade”, diz ele. “Como que os evangélicos votaram no Maranhão? Ajudando a eleger um governador do partido comunista?”, contrapõe o professor, a título de exemplo. “Como hipótese eu sugiro que analisemos o quê está levando o eleitorado em geral ao voto mais recente e por que os evangélicos estariam seguindo no mesmo rumo”, propõe.

 

Edin crê que evangélicos votam como os demais

Voto evangélico: fé no milagre ou lógica da maioria?

Créditos: João Heitor

 

Edin lembra que os protestantes e pentecostais brasileiros sempre separaram a ação política do espaço religioso, diferentemente dos católicos. “Isso é, em outras palavras, republicanismo”, avalia. Na opinião dele, a recente ação eleitoral de pastores e lideranças evangélicas é algo novo.

O problema seria a ascensão dos fundamentalistas no seio da comunidade evangélica, na opinião da teóloga Cleusa Caldeira, também participante do debate. “O fundamentalismo é um pensamento autoritário, porque se vê como único, completo. E que, portanto, despreza o outro pensamento, porque seria falso. “E aí o que fazemos? Compramos uma arma?”, questiona.

O 1º Encontro de Evangélicos e Evangélicas do PT encerra-se na tarde de amanhã, dia 6, com a divulgação de um manifesto e uma carta dirigida à direção do partido, sintetizando os debates iniciados na manhã desta sexta.