A comissão instituída para avaliar as questões que formam o banco de questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é formada por nomes ligados ao conservadorismo. Os três componentes da comissão são Marco Antonio Barroso Faria, Antonio Maurício Castanheira das Neves e Gilberto Callado de Oliveira, doutores em filosofia por diferentes universidades.

A comissão teria como objetivo “identificar abordagens controversas com teor ofensivo a segmentos e grupos sociais, símbolos, tradições e costumes nacionais” e condiz com as críticas que o presidente Jair Bolsonaro tem feito ao exame, por ter abordado, por exemplo, o dialeto Pajubá, de gays e travestis. Sobre a questão, em novembro de 2018 Bolsonaro afirmou que “Esta prova do Enem – vão falar que eu estou implicando, pelo amor de Deus –, este tema da linguagem particular daquelas pessoas, o que temos a ver com isso, meu Deus do céu?” (grifo nosso) e completou que “Não vai ter questão desta forma ano que vem, porque nós vamos tomar conhecimento da prova antes. Não vai ter isso daí”.

O Enem foi criado em 1998 para avaliar o desempenho do estudante ao fim da escolaridade básica. Além de ter essa finalidade, desde 2004 ele é utilizado como critério de seleção para os estudantes que pretendem concorrer a uma bolsa no Programa Universidade para Todos (Prouni). Mais recentemente, passou a ser usado como critério para acesso a vagas de Instituições de Educação Superior diversas no país.

Sobre os componentes da comissão, o primeiro é secretário de Regulação e Supervisão da Educação Superior do Ministério da Educação (MEC). Ex-orientando do ministro da Educação Ricardo Vélez (que, por sua vez, foi indicação de Olavo de Carvalho), Barroso é especialista em Ciências da Religião e, segundo informações de seu Currículo Lattes, com diversos trabalhos em que critica o neodarwinismo e a secularização (entendida como o afastamento da religião) da ciência. O segundo foi membro da banca de doutorado do primeiro (cujo presidente da banca foi o atual ministro da Educação). Por fim, o terceiro é procurador e ligado ao Instituto Plínio Corrêa de Oliveira, grupo conservador cristão que sucedeu a TFP (Tradição, Família e Propriedade).

No caso de discordâncias entre esta comissão e o grupo de especialistas que elaborou as questões, terá palavra final o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Marcus Vinícius Rodrigues, ex-professor da FGV indicado pelos militares. Por sua vez, na cerimônia de posse de Marcus Vinícius, o ministro Vélez elogiou o papel dos militares durante a ditadura, que teriam sido uma espécie de “poder moderador” que “corrigiu os rumos da República”.
Especialistas têm criticado que, além do perfil conservador da comissão, seus componentes não são especialistas nas diversas áreas que compõem o exame e podem propor a retirada de questões essenciais para a avaliação de conhecimento dos estudantes.

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