Laranjal derruba ministro. Agora, militares ocupam quase todo Planalto
O porta-voz da presidência de Jair Bolsonaro, general Otávio Rêgo Barros, anunciou no início da noite desta segunda-feira, 18, a demissão do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, alegando razões de “foro íntimo” de Bolsonaro para a saída do ministro.
Em menos de 50 dias, o governo tem a primeira baixa no primeiro escalão. Bebianno é acusado de repasses do PSL a candidatura laranjas em Pernambuco durante a campanha eleitoral de 2018, quando era presidente do partido.
A crise se agravou quando o ministro tentou atenuar o fato, dizendo à imprensa que havia falado com o presidente e foi desmentido por um dos filhos de Jair Bolsonaro, o vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro, que o chamou publicamente de mentiroso. A crise se arrastou por uma semana, enquanto parlamentares, ministros e até militares do governo tentaram abafar o desentendimento e manter Bebianno no cargo.
Com a saída de Bebianno, assume o general três estrelas da reserva Floriano Peixoto, o oitavo militar no primeiro escalão do governo Bolsonaro. Com isso, Onyx Lorenzoni passa a ser o único civil a ocupar o Palácio do Planalto.
A crise no governo foi gerada pelo repasse de dinheiro ilegal durante a campanha eleitoral, mas o que mais impacta é o peso dos desafetos e a guerra de forças entre um amigo do presidente, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência e seus filhos, que expõe o amadorismo e a “cozinha” do Planalto, comprometendo a autoridade do governo.
A demissão de Bebianno ocorre na semana em que o governo enfrenta seus principais desafios, a apresentação da proposta danosa e indigesta do governo para a reforma da Previdência e do plano de Medidas Anticrime, com licença para matar, de Moro.
Algumas dúvidas podem vir a comprometer a adesão de parlamentares aos projetos:
i: quem governa, Bolsonaro ou seus filhos? Bolsonaro conseguirá impor limites?
ii: o que Bebianno tem a dizer sobre os bastidores da campanha de Bolsonaro?
iii: como fica a investigação sobre o “laranjal” do partido do presidente, o PSL?
iv: por que o Ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antomio, responsável pelo repasse ilegal a candidaturas laranjas de Minas Gerais durante a campanha, não teve o mesmo destino que Bebianno?
v. ainda sobre filhos, que explicação o outro filho de Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro tem a dar sobre a movimentação bancária de mais de R$ 1,2 milhões de seu ex-assessor e motorista Fabrício Queiroz, visto pela última vez fazendo “dancinha” no mesmo hospital em que Jair Bolsonaro esteve internado? Onde está o Queiroz?
vi: por último, e não menos importante, qual o real poder dos militares no governo Bolsonaro?
As fissuras na equipe do governo são um sinal de que o presidente, que em seu discurso de posse defendeu a “hierarquia, respeito, ordem e progresso”, não tem condições técnicas, morais nem administrativas para conduzir o Brasil.