Ministro do Meio Ambiente não conhece Chico Mendes
Em entrevista realizada pelo Programa Roda Viva da TV Cultura, o Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse não saber quase nada sobre o ambientalista Chico Mendes e mencionou “O fato é que é irrelevante. Que diferença faz quem é o Chico Mendes nesse momento?”. Ao considerar esse fato, a equipe da Fundação Perseu Abramo resolveu relembrar quem foi o ativista e o que ele significou para luta dos povos da floresta.
Já faz 30 anos do assassinato de Chico Mendes, o seringueiro que iniciou sua luta a favor dos povos da floresta, tornando-se sindicalista, político e ativista ambiental com reconhecimento internacional.
A realidade de exploração a qual os seringueiros eram submetidos na Amazônia, assim como a expulsão dos extrativistas da floresta pela ambição dos grandes proprietários de terra transformou-se em indignação aos olhos de Chico Mendes. Nascido em Xapuri/AC começou a trabalhar nos seringais ainda na infância e devido à falta de acesso ao ensino na região foi alfabetizado apenas aos 19 anos
Em 1975, Chico Mendes começou sua atuação como sindicalista rural se unindo aos seringueiros na luta contra o desmatamento predatório da floresta e contra a violência no campo. Chico Mendes incentivava uma tática de resistência pacífica chamada “empate”, a qual um cordão humano era formado por homens, mulheres e crianças para impedir o corte das árvores.
Entre 1977 e 1980, atuou politicamente como vereador de Xapuri/AC, mobilizando atores sociais em torno dos direitos dos seringueiros e pela criação de uma política de preservação da floresta – fato que causou repúdio aos fazendeiros que buscavam explorar a qualquer preço os recursos naturais do local.
Em 1985, o ambientalista coordenou o 1º Encontro Nacional de Seringueiros e participou da criação do Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS). O destaque do encontro foi à proposta de unificar a pauta de interesses dos seringueiros, povos indígenas, pescadores artesanais, população ribeirinha, castanheiros e quebradoras de coco em torno do conceito de “reservas extrativistas” – áreas de preservação ambiental, onde seria conciliada a convivência de povos indígenas e extrativistas comprometidos com a colheita não predatória de recursos naturais, tais como látex, peixes e castanhas.
A proposta de criação das reservas extrativistas e a unificação da luta dos povos da floresta ganhou reconhecimento de entidades internacionais e foi o ponto alto da militância protagonizada pelo ambientalista. Não é preciso mencionar que a ideia de criação de reservas florestais levantou a ira dos grandes proprietários de terra que viram seus interesses de exploração dos recursos naturais ameaçados. Em 1988, o descontentamento dos poderosos resultou no assassinato de Chico Mendes por fazendeiros donos de seringais locais.
A partir da morte do ambientalista, a luta pela preservação da Amazônia tomou proporções mundiais. O local onde ele residia foi criada a Reserva Extrativista Chico Mendes, a primeira no conceito de unidade de conservação de uso sustentável, onde as populações tradicionais têm a permissão de morar dentro e também realizar o extrativismo de bens naturais, como a castanha, a borracha e o açaí.
O legado de Chico Mendes está presente na trajetória do Partido dos Trabalhadores e nas gestões petistas de Lula e Dilma na presidência da república, as quais consolidaram-se avanços importantes tanto na política de preservação do meio ambiente, quanto no apoio do Estado para obtenção de direitos para os povos das florestas.