“Que diferença faz quem é Chico Mendes? Chico Mendes é irrelevante”. As palavras são do ministro do Meio Ambiente do governo Bolsonaro, Ricardo Salles, em entrevista ao programa Roda Viva desta segunda-feira (11).

Seringueiro desde a infância, Francisco Alves Mendes Filho, o Chico Mendes, era líder dos trabalhadores rurais e dos seringueiros da Amazônia e ambientalista de expressão internacional. Em 22 de dezembro de 1988, ele foi assassinado a tiros em Xapuri (AC) na frente de sua casa e da família por fazendeiros da região incomodados por seu ativismo e pela repercussão de suas denúncias. Chico Mendes tornou-se secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia (AC) em 1975. Compreendendo que seringueiros e extrativistas dependiam da preservação da floresta para sobreviver, passou a liderar os “empates”, manifestações pacíficas em que os seringueiros faziam barreiras humanas contra o desmatamento.

Em 1977, fundou o sindicato de Xapuri e se elegeu vereador pelo MDB. Passou, então, a receber ameaças de morte. Por suas atividades sindicais e com movimentos sociais, em 1979 foi acusado de subversão, preso e torturado. Em 1980, participou da fundação do PT. No mesmo ano, foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional a pedido de fazendeiros que o acusavam de envolvimento no assassinato de um capataz. Em 1981, assumiu a Presidência do sindicato de Xapuri, cargo que ocuparia até sua morte. Em 1984, foi absolvido de denúncia de incitar posseiros à violência. Candidatou-se a deputado estadual em 1986, mas não se elegeu.

Sua projeção internacional teve início em 1985, com a realização do 1° Encontro Nacional de Seringueiros, durante o qual foi criado o conselho nacional da categoria, que passaria a lutar pela demarcação de reservas extrativistas.

Seu papel foi tão relevante, que em 1987 uma delegação da Organização das Nações Unidas (ONU) visitou Xapuri e constatou a veracidade de denúncias de devastação florestal, que seriam levadas ao senado norte-americano e ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Como consequência, financiamentos internacionais a projetos de impacto ambiental negativo foram suspensos. Os fazendeiros passaram a chamá-lo de “inimigo do progresso”. Chico Mendes recebeu diversos prêmios internacionais por sua atuação, inclusive o Global 500, oferecido pela ONU em 1987.

Foram julgados e condenados por seu assassinato, em 1990, o fazendeiro Darly Alves e seu filho Darcy, que Chico já acusara de ameaças de morte. Em 2007 foi criado, no âmbito do Ministério do Meio Ambiente, o Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBio), encarregado de fiscalizar a conservação ambiental antes a cargo do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Sua vida inspirou, entre outras obras, as canções “O medo não cria”, de Flávio Venturini, Beto Guedes e Lô Borges, “Xote Ecológico”, de Luiz Gonzaga, o samba-enredo “Chico Mendes, o arauto da natureza”, da escola de samba Lins Imperial e “Chico Mendes”, da banda mexicana Maná.

Este texto é fruto do trabalho do Memorial da Democracia, o museu virtual dedicado às lutas democráticas do povo brasileiro.

O Centro Sérgio Buarque de Holanda, da Fundação Perseu Abramo, guarda retratos, cartazes e livros que ajudam qualquer cidadão a entender melhor a relevância deste brasileiro para a história do país e do planeta. #Ficaadica:

https://acervo.fpabramo.org.br/index.php/informationobject/browse?topLod=0&query=Chico+Mendes&repos=434

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