Movimentos sociais e militantes de sindicatos estão mobilizados desde a última sexta-feira, 25 de janeiro, para ajudar no resgate de desaparecidos e no auxílio a atingidos por mais um crime ambiental protagonizado pela companhia Vale. O rompimento de uma barragem do Córrego Feijão despeja lama e rejeitos por toda a região ao redor da cidade de Brumadinho (MG) e a tragédia já atingiu diretamente ao menos 19 municípios.

O MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) está reunindo equipes em ação desde as primeiras horas após o rompimento. Além das equipes voluntárias no local, o MAB também procura angariar apoio de outras entidades dos movimentos sociais e sindical, na forma de contribuição em dinheiro.

“Por enquanto temos um grupo de aproximadamente dez pessoas do MAB atuando aqui. Aguardamos a chegada de outras”, explica Thiago Alvez, da coordenação estadual do MAB em Minas Gerais. Segundo ele, a ajuda que o movimento se propõe a dar é especialmente apoio psicossocial – incluindo cuidados médicos – e municiar as vítimas de informações sobre seus direitos.

“Nosso primeiro esforço é trazer informação independente, acumulada em vários anos de experiência em situações semelhantes. Sempre que ocorre uma tragédia dessa, há assédio de advogados tentando se aproveitar”, conta Thiago, que é jornalista.

Além disso, segundo ele, há uma guerra de informações vindas da mídia e de representantes da empresa com o objetivo de “criar confusão, divisão entre as famílias e aumentar o desalento”. Nesse episódio, como em outros, o MAB vai atuar em parcerias. A Defensoria Pública estadual, a  rede Médicos Populares e outros voluntários já está atuando no esforço conjunto.

“As pessoas não conseguem lutar por seus direitos se não estiverem recompostas. Por isso nosso trabalho não é pontual, é de longo prazo, de atendimento psicossocial. Estamos aguardando voluntários e sempre, em outros momentos, tivemos resposta positiva”, conta. Saiba como ajudar o MAB visitando suas páginas no Twitter e no Facebook.

Esse acidente de grandes proporções, o segundo em três anos causado por operações da Vale em Minas Gerais, poderia ter sido evitado caso denúncias dos movimentos sociais e de ambientalistas tivessem sido levadas em conta pela empresa e pelas autoridades.

O MAB emitiu nota já na sexta-feira, apresentando um retrospecto do descaso da Vale e dos governos. Leia trechos:

“As evidências de mais um crime socioambiental de incalculáveis dimensões nos agridem novamente. O poder público não escutou as comunidades e atuou em favor do poder corporativo para flexibilizar as licenças de ampliação do complexo de barragens em dezembro de 2018.

Nós do MAB entendemos que se trata de um crime continuado pela Vale contra o povo brasileiro. Há três anos do crime da Samarco com o estouro da barragem de Fundão, em Mariana, nenhuma casa foi construída, não sabemos o número de pessoas atingidas, não temos estudo sobre os impactos na saúde, as mulheres não são reconhecidas como atingidas, entre outras tantas violações ambientais e de direitos dos atingidos. O poder judiciário até hoje não responsabilizou nenhum dos diretores das empresas envolvidas pelo crime e não assegurou a reparação integral das famílias. Muito pelo contrário, tem atuado na seletividade punitiva, criminalizando a manifestação das famílias, os movimentos populares e as organizações da sociedade civil.

É importante destacar que a companhia Vale S.A já foi uma empresa do povo brasileiro, mas nos anos 90 foi privatizada. O que vemos atualmente é uma empresa superpoderosa que atua para o lucro dos acionistas, mas não tem qualquer compromisso com a vida humana e o meio ambiente.

Mais uma vez essas grandes empresas e a conivência dos governos demonstram as suas prioridades pelas taxas de lucro em detrimento da qualidade de vida da população. Não há desenvolvimento regional, há destruição de vidas e contaminação dos rios e da natureza.

O MAB convoca o povo brasileiro, pelo espírito de solidariedade e justiça social que nos move, a apoiar as famílias atingidas pelo rompimento da barragem de Brumadinho. Já estamos na região e estamos movendo muitos atingidos de todo o Brasil nessa tarefa de solidariedade e apoio às vítimas, ao lado de tantos outros atingidos e atingidas da bacia do Rio Doce e litoral capixaba que já se voluntariaram ao dever de companheirismo.

Seguimos lutando por justiça em Mariana, em Brumadinho, na bacia do Rio Doce, no litoral capixaba e em defesa do São Francisco.

Exigimos justiça em mais este crime, que a morte de pessoas, de animais, dos rios e do meio ambiente não fiquem mais uma vez impunes.”

Segundo o Brasil de Fato, na manhã deste sábado 413 trabalhadores da Vale, sendo 90 terceirizados, ainda não haviam sido localizados. Nove mortes haviam sido confirmadas até aquele momento e 189 pessoas resgatadas.

A presidenta do PT, Gleisi Hoffman, também apontou o processo de privatizações como fonte de tragédias como essa que atinge Minas Gerais.  “A privatização de empresas em setores de grande impacto ambiental ou social, mais cedo ou mais tarde cobra seu preço da população. Ainda mais quando há impunidade de ocorridos anteriores, como no caso da Barragem de Samarco em Mariana. Esta, pela extensão que está sendo prevista, pode ter as mesmas consequências. É mais um alerta, doloroso, de que a política de privatizações generalizadas com o afrouxamento de regras para conservação e preservação ambiental podem aumentar, e muito, tragédias como estas”, afirmou.

As críticas dos movimentos sociais e da oposição ao novo governo federal estenderam-se também às propostas de Jair Bolsonaro para ampliar as empresas estatais privatizadas e às críticas dele e sua equipe ao rigor nos licenciamentos ambientais e na fiscalização.

Lideranças políticas e ativistas ambientais destacaram também a presença de executivos ligados às grandes empresas de mineração em cargos estratégicos no governo Bolsonaro, inclusive naqueles responsáveis por fiscalização e liberação de projetos e obras na área.

 

 

 

`