A reunião do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, iniciada dia 22, costuma reunir muitos chefes de Estado, embora, este ano, os dos países com maiores economias não compareceram. O primeiro a discursar foi o atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro que, dos 45 minutos que tinha disponível, aproveitou apenas seis. Seu discurso foi digno de quem não debateu, durante a corrida eleitoral, pautas e medidas concretas a serem adotadas, já que foi extremamente genérico e superficial. Sua fala não agradou nem mesmo aos representantes do grande capital.

Quase metade do tempo em que discursou foi utilizado para tratar do período eleitoral e em agradecimentos. Houve, também, parágrafos para enaltecer os atuais ministros que estavam em sua comitiva: Paulo Guedes, da Economia, Sérgio Moro, da Justiça e Segurança Pública e Ernesto Araújo, de Relações Exteriores. Assim, sobraram poucos segundos para falar daquilo que realmente interessava aos ouvintes e à mídia internacional, ou seja, o que o governo Bolsonaro pretende fazer e, nesse pequeno intervalo de tempo, o que ouviram foi mais do mesmo e nada detalhado.

 

Presidente desembarca na Suíça

Créditos: Alan Santos/PR

 

Para começar, o presidente falou em melhorar a segurança do Brasil para atrair mais turistas, o que é incompatível com o decreto que flexibilizou o porte de armas assinado por Bolsonaro na semana anterior. A questão da privatização também apareceu, bem como diminuição da carga tributária, porém sem nenhum anúncio de como pretende fazê-lo. Em relação ao comércio exterior, foi defendido o livre-comércio e uma Organização Mundial do Comércio (OMC) com reformas, que garantiria trocas comerciais mais justas, e isso viria com uma política externa “sem viés ideológico”, liderada por Araújo.

Entretanto, são várias as incoerências dessas últimas afirmações, por mais que sejam genéricas. Como Araújo, um “trumpista” roxo e crítico do tal “globalismo”, é prestigiado em um evento que é fruto e reflete justamente a globalização neoliberal? Além disso, para ser um país que consiga ter poder de barganha na OMC para garantir um comércio justo, é necessário ser um país com voz própria, forte, sem estar subordinado a nenhum outro, como foi o caso do Brasil no período dos governos petistas e da política externa altiva e ativa, quando conseguimos várias vitórias em painéis da OMC. Ao contrário disso, Araújo defende que o Brasil alinhe-se totalmente aos Estados Unidos, voltando aos status de “quintal” dos estadunidenses, pois Donald Trump seria, em suas palavras, o salvador do Ocidente (aqui também percebemos que a política externa claramente não será sem viés ideológico).

Outros temas que foram caros durante a corrida eleitoral, como a defesa da família, também entraram no discurso. Bolsonaro, no final, reiterou seu discurso eleitoral para uma plateia que não vota no Brasil.

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