Jair Bolsonaro falou nesta terça-feira (22) no Fórum Mundial Econômico, em Davos, na Suíça, e seu primeiro discurso internacional já foi visto com bastante preocupação para especialistas.

Para se ter uma ideia do estrago causado, o prêmio Nobel de Economia Robert Shiller, saiu da sala com a seguinte afirmação: “Bolsonaro me dá medo”. E completou: “O Brasil é um país grande, e merece alguém melhor”.

Mônica Valente, secretária nacional de Relações Internacionais do PT comenta que “a expectativa de que o discurso de Bolsonaro seria ruim já era prevista”, mas reitera que “foi bem pior do que todos imaginávamos. Depois de ver o que disse, fica ainda mais necessário comparar com o discurso de Lula em Davos, em 2003. A diferença entre ambos é incomensurável.”

O candidato, que teve como lema “Brasil acima de tudo”, que curiosamente não usou em Davos por ter proximidade com um slogan da campanha nazista de Hitler, já apontava para uma submissão política e econômica. O eleito não demorou nem um mês para sancionar a venda da Embraer e reitera a disposição de privatizar uma centena de estatais, algo que reafirmou em seu curtíssimo discurso de seis minutos na Suíça.

Monica ressalta que a imagem do Brasil no exterior já estava manchada com o golpe de 2016. A dirigente é explícita em relação às suas expectativas. “O que a gente pode esperar da política externa de Bolsonaro são só desastres”. Ela também criticou a ausência de Paulo Guedes e a fuga de Moro das denúncias de corrupção que assolam a família do presidente.
Sobre a subserviência aos Estados Unidos e à política de Trump, Monica questiona: “O que a família Bolsonaro quer mostrar ao mundo? Que eles vão ser capatazes do governo norte-americano? É esse o papel vergonhoso que eles pretendem inaugurar em Davos?” Para finalizar ela ainda afirma: “Bolsonaro fez a gente passar vergonha e não vai trazer nenhum benefício pro povo brasileiro.”

Fernando Haddad, que disputou o segundo turno contra Bolsonaro, também se pronunciou a respeito do papel desempenhado pelo presidente em Davos. “Fora do Brasil as pessoas estão perplexas em relação ao país. Há uma discrepância entre o que é veiculado pela imprensa no Brasil e o que é veiculado fora. Basta ver a repercussão do discurso de Davos hoje, na imprensa internacional e na local. Na imprensa local, estamos quase diante do discurso de um estadista”, ironizou. “Na imprensa internacional, a frustração é enorme. O Brasil nunca foi tão mal representado num fórum internacional. Ele mal conseguia falar o que tinha ido dizer”, afirmou Haddad, diante de uma plateia reunida em Lisboa para participar de debate sobre a democracia brasileira.

Em outro momento, o ex-prefeito de São Paulo acrescentou: “Não temos meios de comunicação imparciais que tenham compromisso com a verdade a todo custo. A maioria dos meios de comunicação são laudatórios do governo atual”.
Haddad apontou também as investigações policiais que aproximam o clã Bolsonaro das milícias do Rio de Janeiro e as suspeitas de ligações com pessoas envolvidas no assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes. Ele questionou “a vinculação cada vez mais explicitada” com milícias. “Os gabinetes (de deputados) estão coalhados de milicianos. Por que um deputado contrata miliciano, parentes de milicianos para sua assessoria? Esse pessoal está preparado para fazer projeto de lei?”

Segundo Haddad, o governo é formado por três núcleos. “Um núcleo fundamentalista obscurantista, um neoliberal, e tem a tutela militar.” Ele observou haver diferença significativa entre perder uma eleição para a direita, porque neste caso uma parte dos direitos fica preservada, e ser derrotado pela extrema-direita. “Sobretudo (uma extrema-direita) dessa natureza que assumiu o Brasil. Tudo está em discussão: a escola laica, a auto-organização do movimento popular. Os líderes dos sem-terra e sem-teto podem ou não serem tratados como terroristas.”

O petista voltou a criticar a imprensa dizendo que ela “trata com naturalidade” fatos como, por exemplo, o ministro da Educação (Vélez Rodríguez) dizer que o Enem é do presidente da República e que ele pode censurar a prova elaborada por educadores. “Com todo respeito, quem é Bolsonaro para julgar um educador? Uma pessoa que não consegue elaborar uma frase com 10 palavras vai julgar um educador?”, questionou.

 

 

 

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