Entidades pedem apuração de atentado contra monumento a Marighella
Continua aberto para adesões o manifesto denunciando a depredação do monumento em homenagem a Carlos Marighella, na Alameda Casa Branca, em São Paulo, local onde ele foi assassinado pela ditadura militar, em 1969. O documento, do Núcleo de Preservação da Memória Política, pede investigação e responsabilização pelo ato criminoso perpetrado na calada da noite.
Publicado nas redes sociais, o documento já recebeu dezenas de adesões e continua aberto para outras assinaturas na página do Núcleo Memória.
No ato de depredação, os criminosos usaram a sigla de uma organização paramilitar de direita que agia com a conivência da ditadura: o Comando de Caça aos Comunistas (CCC). Que assim como o Movimento Anticomunista (MAC), era uma organização paramilitar de direita. Ambas atuavam antes do golpe de 1964 e passaram a ter cobertura do regime para cometer violências e atentados contra civis. Artistas contestadores, grupos de teatro, livrarias e o movimento estudantil eram os alvos do CCC, que contava com policiais civis entre seus membros. As ações que se tornaram mais famosas foram o ataque ao elenco do musical “Roda Viva”, em 1967, e a batalha da rua Maria Antônia, em 1968, quando o CCC comandou estudantes da Universidade Mackenzie no ataque à Faculdade de Filosofia da USP, matando com um tiro o estudante José Guimarães. CCC e MAC deixaram de atuar abertamente depois do AI-5, quando a ditadura coibiu toda manifestação pública contra o regime. Nenhum crime do CCC ou do MAC foi punido.
Leia o manifesto na íntegra
“Nesta sexta-feira, 18/01/2019, o monumento localizado na Alameda Casa Branca amanheceu depredado e com as inscrições “CCC”, que fazem referência ao Comando de Caça aos Comunistas – grupo miliciano que atuou em apoio à ditadura civil-militar.
O monumento foi instalado no local em 1999 como sinalização pelos eventos ali ocorridos durante o período ditatorial e homenagem a Carlos Marighella. Em 4 de novembro de 1969, o líder da Ação Libertadora Nacional (ALN) foi executado no local, vítima de uma emboscada policial comandada por Sérgio Fleury, delegado do Deops/SP – como concluiu a perícia realizada em 2012 pela Comissão Nacional da Verdade.
Este é um Lugar de Memória para o povo brasileiro, que conta uma parte da história das lutas por democracia, cidadania e Justiça.
A depredação do momento é mais uma expressão da intolerância política e violência em presentes em nossa sociedade. Uma sociedade democrática pressupõe o convívio com as diferenças políticas e o diálogo.
Este grotesco episódio não é um caso isolado e precisa ser apurado pelas autoridades do Estado de São Paulo, e seus responsáveis responsabilizados pelo ato criminoso perpetrado na calada da noite.
Nós, abaixo assinados, repudiamos o ato vil e criminoso em mais um lugar de memória e monumento pertencente ao povo brasileiro.”