Os riscos dos 453 garimpos ilegais na Amazônia
Mapeamento inédito da Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada identificou 453 garimpos ilegais na Amazônia brasileira. Apesar da difícil identificação, foram também localizados dezoito garimpos em Terras Indígenas.
A mineração, principalmente a ilegal, causa danos irreparáveis na mata, no solo, nos rios, aos mineradores, e inclusive às populações alheias a ela, que residem no entorno. Um estudo realizado pela Fundação Oswaldo Cruz com a etnia Yanomami, na Amazônia, identificou tribos com até 92% dos componentes contaminados com mercúrio por meio do consumo de peixe de rio contaminado. Este metal, utilizado para separar o ouro da terra, causa danos irreversíveis ao sistema nervoso central, ao coração e na formação fetal.
Como se não bastasse, esta situação pode piorar. O futuro presidente Bolsonaro já indicou sua predileção pelo Projeto de Lei 1610/96, que busca liberar a exploração de minerais em Terras Indígenas. Segundo PL, os índios também podem explorar a mineração em suas terras e devem ser integrados à sociedade. Tal declaração demonstra sua total alienação em relação à cultura e interesses dos povos indígenas, que sempre apontaram para o sentido contrário, o da preservação da natureza, para que possam obter alimentos saudáveis e se desenvolver dentro de sua visão de mundo. Os consequentes royalties da exploração mineralógica, para os índios que vivem em Reservas, não fazem sentido para seu estilo e necessidade de vida.
O simples contato com a mineração, mesmo que indireto, pode transformar povos autossustentáveis e que procuram viver em harmonia com a natureza em verdadeiros depredadores da mata, dependentes do metal dourado. Sobre a complexidade da liberação oficial de mineração em Terras Indígenas, Roberto Cabral, coordenador de fiscalização do Ibama, declarou “Trata-se de uma atividade não só ilegal, como impossível de ser legalizada”.
Paralelamente ao aumento da cotação do ouro, que cresceu 150% desde 2010, a possibilidade de mineração artesanal vai rareando mesmo nas Terras Indígenas (as mais intocadas legalmente), pois já não se encontra este metal na superfície. Em consequência, os garimpeiros, que em geral são peões, ribeirinhos ou trabalhadores rurais, também são explorados pelo dono do garimpo ou mineradoras e trabalham informalmente sem mais deter os meios de produção, já que agora dependem das altamente custosas dragas escariantes ou retroescavadeiras hidráulicas. Estas, por sua vez, possuem um potencial de destruição da natureza avassalador.