Ruralistas descobrem o gosto amargo das políticas neoliberais
Com ministros da Fazenda oriundos das diretorias dos grandes bancos privados não é de surpreender a cruzada que se têm feito neste país contra qualquer tipo de crédito subsidiado. Nessa guerra santa, vale desconstruir o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – transferindo grande parte de seu capital para o Tesouro Nacional -, vale acabar com a TJLP (taxa de juros de longo prazo) e não custa nada botar na geladeira programas de grande êxito como o Minha Casa, Minha Vida.
De acordo com o palavrório dos ministros banqueiros, na ausência das linhas de crédito subsidiado, os bancos privados deverão ocupar o vácuo deixado pelos bancos públicos e disputar a nova clientela ofertando capital a juros livres, eventualmente um pouco mais caro, porém, com a vantagem de não onerarem o orçamento público.
Infelizmente, contudo, o mundo real em nada bate com os manuais de economia que essa gente um dia visitou na escola de Chicago. Neste exato momento, com uma perspectiva de avanço da demanda por produtos agrícolas no ano de 2019, os produtores rurais brasileiros têm ido aos bancos públicos raspar o tacho das linhas de crédito subsidiado para financiar o plantio da nova safra, comprar colheitadeiras, tratores e equipamentos de armazenagem. Ocorre que, com o tacho pequenino, a demanda por crédito está muito maior do que a oferta e as associações de produtores dos diversos segmentos do setor agropecuário começam a desconfiar que faltará dinheiro para investirem naquela que prometia ser a melhor safra de todos os tempos.
O que fazer? Por que os bancos privados não ocupam esse mercado carente de crédito e atendem à demanda sedenta por investimentos? A resposta, sabe bem o leitor, é surpreendentemente óbvia: porque as taxas de juros exigidas pelos bancos privados para compensar os riscos desse tipo de empreendimento, seus custos operacionais e ainda lhes garantir algum lucro são excessivamente altas. Isto é, superam o patamar de rentabilidade da grande maioria das atividades do agronegócio brasileiro. Para se ter uma ideia, enquanto as linhas subsidiadas dos bancos estatais trabalham com uma taxa de juros anual que varia de 5,25% a 9,5%, as linhas de crédito dos bancos privados chegam ao mercado com uma taxa de juros que alcança entre 12% e 15% ao ano, portanto, com uma diferença suficientemente elevada para inviabilizar as operações.
Como se vê, lembrando do clássico dito caboclo, talvez coubesse dizer que em casos como esse, na medida em que a carroça se movimenta, as abóboras vão caindo pra fora. Se seguirmos na toada do ideário neoliberal, aos poucos a realidade deverá ter que cumprir seu papel pedagógico, informando aos leitores de manuais que para fazer os negócios capitalistas funcionarem em um país periférico e dependente como o nosso, ou se associam ao Estado vigoroso ou desaparecem.