No dia 14 de novembro a primeira-ministra britânica, Theresa May, anunciou que seu gabinete havia aprovado uma proposta de acordo negociado com as autoridades da União Europeia (UE) para que o Reino Unido se desligue dela, o chamado Brexit. Agora os próximos passos serão a sua aprovação pelos membros da UE, bem como pelo Parlamento inglês, o que, no entanto, não deverá ser algo simples já que o governo de May está fraturado em torno da proposta que levou a várias demissões de ministros e secretários, pois seu partido, o Conservador, está dividido entre uma ala que defende um rompimento mais duro com a União Europeia e outra que argumenta a favor de uma saída suave e negociada para o Brexit.

No entanto, a proposta é mais uma declaração política de intenções do que um tratado concreto. Porém, a sua aceitação pelas partes, abriria o caminho para a negociação de seus termos, particularmente quanto ao comércio entre a Inglaterra e o continente europeu e à situação dos cidadãos ingleses que vivem na UE e vice-versa.

A saída do Reino Unido da UE começou em 2016 após a aprovação desta possibilidade por 52% dos eleitores que participaram do referendo. O primeiro-ministro à época, David Cameron, que era a favor da permanência na UE, renunciou após o resultado. Em uma onda favorável aos conservadores, Theresa May tornou-se primeira-ministra tendo como principal objetivo negociar o encaminhamento do Brexit.

No entanto, o caminho trilhado por May teve vários obstáculos até agora, como a derrota dos conservadores nas eleições gerais em 2017 e a demissão de sete integrantes de seu governo, sendo que três se afastaram em julho passado e mais quatro depois do anúncio do acordo.

As demissões foram frutos das discordâncias entre, de um lado, aqueles que querem uma saída radical da UE e, de outro, os que concordam com a manutenção de alguns laços entre as partes como, por exemplo, o livre-comércio. May faz parte da segunda corrente enquanto a maioria dos ministros que se demitiram faziam parte da primeira e disseram não apoiar o que eles consideram um acordo que faria do Reino Unido uma região tutelada pela UE. Com as últimas renúncias, abriu-se no Parlamento um pedido de voto de desconfiança contra May para afastá-la, o que foi endossado por 23 membros de seu partido que não concordam com o Brexit “suave”.

O atual governo conservador somente manteve a maioria no Parlamento em 2017 devido à aliança que fez com um pequeno partido conservador da Irlanda do Norte. Portanto, com os conservadores agora divididos, tanto o resultado de um eventual voto de desconfiança, quanto a aprovação de um acordo com a União Europeia dependerá da posição dos trabalhistas.

Além das fraturas internas, a saída do Reino Unido está permeada por algumas controvérsias, sendo a principal delas a questão da fronteira entre a Irlanda e a Irlanda do Norte. O último, de maioria protestante, faz parte do Reino Unido e, portanto, sairia também da UE o que poderia impactar negativamente o fluxo de comércio na fronteira com a Irlanda, de maioria católica, que é membro do bloco europeu. O que foi sugerido até o momento é que não haja checagem severa nesta fronteira para não criar atritos entre os dois países, mas a entrada de produtos provenientes da Irlanda será controlada. Também se discute a situação de Gibraltar, um pequeno território incrustado na Espanha desde o século XVIII e que os espanhóis querem retomar e ameaçam votar contra o acordo, se o Reino Unido não se dispuser a abrir negociações sobre o tema.

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