O presidente eleito Jair Bolsonaro criticou na tarde de ontem em entrevista à Band a medição de desemprego no país, que segundo ele é uma “farsa”. Além disso, declarou que “quem recebe Bolsa Família é tido como empregado, quem não procura emprego há mais de um ano é tido como empregado, quem recebe seguro-desemprego é tido como empregado.”

O presidente eleito está muito mal informado sobre como é calculada a taxa de desocupação (e não desemprego) e sobre as diversas estatísticas que já existem relativas às preocupações apontadas pelo futuro mandatário.

Por exemplo, a Pnad Contínua, calculada pelo IBGE, já mede a quantidade de pessoas desalentadas, que é o contingente de pessoas que desiste de procurar emprego. Formalmente, elas não entram na estatística como desocupadas, pois pessoas desocupadas são aquelas que estão procurando emprego. Essa medição não é uma invenção brasileira, mas é adotada segundo critérios internacionais, para tornar nossos dados comparáveis aos de outros países.

O futuro mandatário também erra quando diz que quem recebe Bolsa Família ou seguro desemprego é considerado empregado. Auferir algum tipo de renda nada tem a ver com o status de ocupado ou desocupado. Aliás, o comentário parte do preconceito do senso comum de que os beneficiários de programas sociais são preguiçosos ou que as políticas públicas incentivam o ócio. Inclusive, estudos mostram que 75,4% dos beneficiários do Bolsa Família trabalham.

O comentário do presidente eleito mostra desconhecimento sobre as estatísticas relativas ao mercado de trabalho e provocou cautela entre pesquisadores da área, que temem alterações que quebrem séries históricas e retirem as medições brasileiras dos padrões internacionais, além de descreditar o trabalho sério realizado por instituições que realizam esse tipo de pesquisa, como o próprio IBGE.

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