O repórter fotográfico Francesco Pistilli, italiano premiado internacionalmente e colaborador de veículos como a revista Time, New York Times, L’Espresso, Wired e Vanity Fair, entre outros, afirmou estar temeroso com a ascensão da onda conservadora no Brasil, representada pela candidatura Bolsonaro, especialmente no tocante à questão dos refugiados venezuelanos. Ele conta que, em conversa com jornalistas da qual participou, o candidato do PSL ao governo de Roraima, Antonio Denarium, não só defendeu o fechamento da fronteira, mas sugeriu a possibilidade de incursão militar em território venezuelano para afastar os refugiados.

“É incrível, eles querem fazer guerra com a Venezuela”, disse o fotógrafo, levando as mãos ao rosto, durante encontro com estudantes de fotografia realizado na noite de quinta-feira, em São Paulo.

Pistilli veio ao Brasil para realizar uma cobertura especial sobre a crise dos refugiados venezuelanos em Roraima. Passou seis dias na região fronteiriça com o país vizinho. Reportagens sobre crises humanitárias envolvendo imigrantes e refugiados é uma das especialidades do italiano, que já realizou coberturas em outras regiões que sofrem o mesmo drama. Neste ano, Pistilli recebeu o prêmio World Press Photo.

Créditos: Facebook

Pistilli venceu o World Press Photo 2018

 

Indagado sobre o uso do tema dos refugiados como justificativa para soluções de extrema-direita, o repórter lembrou que essa opção jamais trouxe soluções e só agravou os conflitos.

“Não é um modo de ver o mundo. O mundo tem de ser diferente, mas não nesse sentido. Estou muito preocupado. Eu trabalho com imigração há muito tempo e creio que não é fechando as fronteiras que se vai resolver a questão nem mudar a história. Os povos se movem. Se se coloca uma barreira aqui, os imigrantes caminharão por outro lado. É preciso dizer que as pessoas que se movem por questões políticas e econômicas não são perigosas nem tampouco ricas, passando férias. As pessoas nestas condições enfrentam grandes perigos. São vítimas, nada mais”, afirmou Pistilli.

Ele lembrou sua condição de italiano para destacar que o seu povo também já formou grandes levas de imigração. E lamentou que a Itália tenha possibilitado recentemente a formação de um governo de direita contrário à presença de imigrantes. Giuseppe Conte, primeiro-ministro, e Matteo Salvini, vice (que já manifestou apoio a Bolsonaro) comandam política xenófoba que restringiu fortemente a entrada e permanência de imigrantes refugiados.

Créditos: Francesco Pistelli

Grávida caminha em campo de refugiados em Roraima

 

Denarium, o candidato a governador de Roraima que lidera as pesquisas no segundo turno da disputa, grande empresário do setor de agropecuária (dono do Frigo10), é entusiasta das ideias de proibir a entrada de refugiados, expulsar os que já estão em território nacional e também de desprezar as reservas indígenas demarcadas, para usá-las comercialmente. À imprensa, costuma tratar Bolsonaro como se já estivesse eleito. No diálogo presenciado por Pistelli, Denarium disse que pedirá apoio ao seu candidato, caso vençam, no propósito de incursão militar na Venezuela.

Na Itália, a política de extrema-direita já promoveu expulsão de imigrantes e até mesmo a prisão do prefeito da cidade de Riace, Domenico Lucano, no início de outubro. Defensor dos direitos humanos, Lucano, que também era apresentador de um programa de TV na RAI, cancelado após sua prisão, foi acusado de ajudar ilegalmente refugiados. Lucano já foi considerado pela revista Fortune, em 2016, como uma das 50 lideranças mais promissoras do mundo.

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