Mercado aposta em falso sucesso econômico de governos autoritários
Seja nas mesinhas de café que ocupam os térreos dos espigões da Av. Paulista, seja nas páginas do jornal Valor Econômico é cada vez mais frequente encontrar gente do mercado financeiro repetindo o argumento de que talvez seja salutar submeter o país a um regime autoritário para implantar o ultraliberalísmo que é extraído dos manuais de economia da “escola de Chicago.”
Para calçar seus argumentos, os liberais de carteirinha lançam mão da memória opaca afirmando que o exemplo a ser seguido seria o da ditadura chilena do General Augusto Pinochet que combinou um regime violento e antidemocrático com uma radical liberalização da economia.
Triste e perigosa a ignorância dos homens e mulheres de mercado que se arriscam hoje a dar palpites na política brasileira. Se iludem com o palavrório do “Posto Ipiranga” de Bolsonaro e com a história falseada sobre o modelo econômico que deu sustentação ao terror de Estado praticado pelo governo Pinochet.
É preciso recordar a essa gente que a experiência chilena é um caso de neoliberalismo de araque, uma retórica “fake” que é repetida por gente que não faz a menor ideia de quais eram as bases da economia do Chile durante os anos de chumbo.
É verdade que Pinochet privatizou boa parte do setor de mineração chilena, assim como é verdade que fez uma radical reforma do sistema previdenciário e que entregou ao mercado a maior parte do sistema de educação do país. Entretanto, é forçoso assinalar que, por um lado, os resultados foram desastrosos e, por outro, a economia só se manteve de pé graças à gigantesca tributação sobre as exportações de cobre, que ainda hoje responde por 52% das vendas externas do país.
Entre os problemas criados pelo liberalismo de laboratório praticado pelos economistas de Pinochet, cabe destacar que, apesar de o PIB per capita ter avançado, a desigualdade social – que era exemplar nas décadas de 1950, 1960 e início dos anos 1970 – cresceu rapidamente, levando o seu Índice de Gini ao patamar de 0,5% (similar ao do Brasil e entre os mais altos da América Latina). Em relação a sua reforma previdenciária (cujo sistema de capitalização tem servido de inspiração ao economista de Bolsonaro), quase metade da população foi alienada e ainda hoje cerca de 40% dos trabalhadores chilenos – a enorme maioria deles está entre os pobres – não conta com nenhuma garantia de renda para enfrentar a velhice ou para se sustentar no caso de invalidez por doença ou acidente.