Candidato à vice-presidência, General Mourão criticou o direito ao 13º salário e a férias como sendo anomalias que só existem no Brasil. Segundo o general, tais direitos seriam fruto de uma visão social com o chapéu dos outros (no caso, para ele, do empresariado).

O 13º salário é um direito adquirido em 1962. Já a primeira lei de férias no Brasil é de 1925, o que mostra que o Brasil proposto por alguns candidatos é um que chega a retroceder quase cem anos.

Como é exemplificado aqui, os argumentos da elite, que era contra esse direito em 1925, são muito semelhantes àqueles que criticam os direitos trabalhistas hoje. Em 1928, o recém fundado Centro Industrial do Estado de São Paulo (Ciesp) alegava que o cumprimento da lei de férias e do Código de menores rebaixavam excessivamente os lucros das pequenas e médias indústrias. Já a Fiesp alegava, na mesma época, que os operários ficariam “vadios, ociosos, entregues aos vícios” com as férias e que o trabalho manual não seria fatigante por ser mecânico e repetitivo e que as férias “só se justificam aos trabalhadores de comércio e dos escritórios, cujo serviço, de natureza intelectual, leva a mente à exaustão”. Citam ainda a Henry Ford: “Não podereis fazer maior mal a um homem do que permitir que folgue nas horas de trabalho”. Outro relatório, da Diretoria e Conselho Fiscal do Centro Industrial de Fiação e Tecelagem de algodão (1927 e 1928), aponta que as férias seriam um desperdício de dinheiro a ser aplicado no “revigoramento das forças vivas da nação”.

Horas depois da declaração de Mourão, Bolsonaro saiu para atacar as declarações de seu vice, afirmando em sua página em uma rede social que “o 13° salário do trabalhador está previsto no art. 7° da Constituição em capítulo das cláusulas pétreas (não passível de ser suprimido sequer por proposta de emenda à Constituição). Criticá-lo, além de uma ofensa à quem trabalha, confessa desconhecer a Constituição.‬”

No entanto, Bolsonaro já deu declarações que vão na mesma direção de seu vice, de ataque aos direitos trabalhistas, em diversas ocasiões. Em maio deste ano, por exemplo, o deputado afirmou que é melhor ter menos direitos trabalhistas e manter o emprego do que perder o emprego, mostrando que sua visão como homem público é de que não é possível gerar empregos com direitos assegurados.

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