O Brasil da austeridade está em chamas
As políticas de cultura estão em chamas no Brasil, reflexo da austeridade fiscal aplicada desde 2015 e da pouca valorização da cultura em geral no Brasil. Consequência de ambas é o incêndio ocorrido no fim de semana passado no Museu Nacional.
Reportagens indicaram que no ano passado mais brasileiros visitaram o Museu do Louvre, em Paris, que o Museu Nacional, o que pode chocar à primeira vista, mas não surpreende: no Brasil em geral só se valoriza o que vem de fora ou o que está lá fora. Enquanto isso, nosso museu abrigava um dos maiores acervos de história natural e do patrimônio cultural brasileiro, desde fósseis de dinossauros de 11 milhões de anos até registros raros de línguas que se perderam com o genocídio de grande parte dos povos indígenas. Patrimônios que perdemos e que não podem ser recuperados.
Podemos, no entanto, mudar esse quadro, preservar e valorizar o que é nosso. Isso não é tarefa simples, mas passo fundamental é o investimento nas políticas de cultura. Porém, se o quadro já não era satisfatório antes da austeridade fiscal, com essa política cristalizada pela Emenda Constitucional 95, os recursos para a cultura estão ainda mais escassos, como discute o documento “Austeridade e Retrocesso: impactos sociais da política fiscal no Brasil”, que foi assinado por dezoito instituições e que pode ser acessado aqui.
O documento mostra que as políticas de cultura estão sendo sufocadas e que o Ministério da Cultura (que chegou a ser extinto pelo governo golpista, mas que voltou atrás por pressão da classe artística) `pode se tornar inviável em poucos anos no ritmo de retirada de recursos que vem sofrendo: pagamentos autorizados ao MinC em 2018 são menos da metade dos recursos autorizados em 2014, antes da austeridade. Tem sofrido cortes o Iphan, o Ibram, Ancine e programas como o Cultura Viva, que chegou a ter orçamento de mais de 100 milhões de reais, mas passou para 12 milhões em 2017.
Se o Brasil quer valorizar melhor do seu patrimônio natural, histórico e cultural, precisa repensar os caminhos da política econômica. Não adianta chorar pelas chamas do Museu Nacional e apoiar a Emenda Constitucional 95.