Os governos dos Estados Unidos e México anunciaram no dia 27 de agosto um “entendimento” preliminar e que as negociações continuarão para concluir o Acordo Comercial Estados Unidos-México. Este deverá substituir o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta, na sua sigla em inglês) tão criticado pelo presidente Donald Trump. Por hora, esta negociação foi só entre os dois países citados, deixando o Canadá, também membro do Nafta, de fora.

O Nafta está em vigor há 24 anos e prevê o livre comércio de bens e capitais entre os três países do norte das Américas. Uma das consequências do acordo foi a movimentação de multinacionais dos Estados Unidos e Canadá, de setores industriais, particularmente a indústria automobilística estadunidense, rumo à procura de mão de obra barata no território mexicano, o que acabou desempregando os operários destes países e ao mesmo tempo confinou o México a um lugar menos importante na cadeia produtiva, pois toda a tecnologia e conhecimento, que geram os maiores lucros e desenvolvimento, ainda estão nas mãos dos estadunidenses e canadenses. As maquiladoras mexicanas tornaram-se conhecidas nesse contexto por importar peças e componentes dos Estados Unidos para apenas montar bens de baixa tecnologia, posteriormente devolvidos como parte das cadeias produtivas globais, uma vez que as tarifas de comércio entre os três países é “zero”.

O discurso de Trump desde a campanha eleitoral foi de crítica ao Nafta demandando sua revisão ao mesmo tempo em que atacava os imigrantes mexicanos. Nessas falas ele se dirigia principalmente à grande massa de desempregados americanos, demitidos após as movimentações das multinacionais, e que caíram no conto de que a culpa disso seria dos imigrantes. É importante ressaltar que o Nafta quando foi aprovado em 1994 também foi defendido com o argumento de que conteria a imigração, já que geraria empregos no México, por mais mal pagos que fossem. Entretanto, o desenvolvimento nunca chegou a esse país e, pelo contrário, os níveis de desigualdade, violência e pobreza continuam altos.

O atual acordo, que terá vigência de dezesseis anos, podendo ser prorrogado por mais dezesseis ao fim do período, foca inicialmente na indústria automobilística e será exigido que os automóveis tenham pelo menos 75% de peças provenientes dos Estados Unidos para que seja considerado produto local, o que, no Nafta, era de 62%. Entre 40% e 45% desta produção deverá ser feita por trabalhadores que ganhem, no mínimo, dezesseis dólares por hora, o que deverá proteger os empregos nos Estados Unidos e no Canadá, se esse país vier a assiná-lo.

Ao que tudo indica, o Acordo priorizou, novamente, os interesses dos Estados Unidos e, possivelmente do Canadá, apesar deste não ter participado das negociações, em detrimento do México.

No entanto, ainda não se conhece a íntegra do Acordo, pois as negociações se desenvolveram em sigilo, sem participação de qualquer organização social, e o Nafta original possui cerca de cinco mil itens. Destes, os temas relacionados a proteção de investimentos, serviços, compras governamentais, propriedade intelectual, agricultura, entre outros, sempre foram mais favoráveis aos dois países mais desenvolvidos do bloco e, portanto, é pouco provável que sejam alterados. A ver.

O que acabou de ser acordado com o Presidente Peña Nieto do México na reta final de seu mandato foram, pelo menos, novas regras para o setor automobilístico e para a propriedade intelectual, que novamente beneficiarão os Estados Unidos, pois os mexicanos ficarão ainda mais dependentes da tecnologia produzida nos outros dois países e os salários menores no setor automobilístico não serão mais uma vantagem comparativa. O recém eleito Andrés Manoel Lopez Obrador receberá um abacaxi para descascar. Como diria o general Santana, ex-governante mexicano derrotado na guerra com os Estados Unidos em 1848: “Pobre México. Tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos”.

`