Banda Nã: uma banda assim, meio intelectual, meio de esquerda
Uma das novas bandas que chamam a atenção no cenário independente é a Banda Nã. Em seu primeiro disco, Farpa, ela faz uma mistura de ritmos entre o samba, o punk e o jazz. Nas letras, destaque para os problemas sociais e políticos brasileiros.
A banda foi formada em 2015, por Babalu (bateria), Michel de Moura (guitarra e voz), Bjanka Vijunas, Fernanda Broggi e Rafael Noleto (voz), Thiago Pereira (double bass), Renato Ribeiro (guitarra e violão) e Rogério Martins (percursão, clarinete), com parte dos componentes (Thiago, Bjanka e Michel de Moura) oriundos do Projeto da Mata e estudantes do curso de Ciências Sociais da USP, o que inspira as letras das canções, em sua maioria compostas por Michel de Moura e com arranjos coletivos.
Com caráter altamente politizado, as letras trazem referências históricas e filosóficas, misturadas a poesia marginal e a cenas do dia a dia. A banda se auto classifica como “Afropunk Benjaminiana” por sua proposta de estilo eclético, que mistura ritmos e destaca seu caráter experimental, com a qualidade técnica e profissional de seus músicos.
O Disco Farpa traz doze faixas e, como o próprio nome sugere, incomoda. Entre elas, “A modernidade não cumpriu o seu papel” faz alusão direta ao atual momento político e econômico brasileiro ao afirmar que “O lance agora/ É garantir o desinvestimento/ Eu juro, assim a gente salva a nação”. Em outras, como a que dá título ao álbum “Farpa/ Samba de classe” traz uma crítica à despolitização que ronda a sociedade: “Quem disse que a luta de classes/ É um papo retrógrado, antigo, datado/ Tá mal informado/ Preste atenção na avenida paulista/ O carro ao seu lado com vidro blindado Que medo da vida/ Ou medo da morte querida não sei”.
Há referência e reverência aos povos originários da América Latina, como em “Unhas e dentes”: “…é com unhas e dentes que defendo a vida E cantam e choram os Arawetés/ Os torturados de Guantánamo e os Apinajés Os imigrantes do Haiti e os povos do Xingu/ Enredos semelhantes de uma mesma história/ O bolero e o samba, o rum e a cachaça/ Fidel, Morales flutuam pelos ares Da América inteira batida/ Feita de sonhos, intrigas/ Refeita a cada despedida A benção minha mãe, vou partir de novo”.
O segundo álbum da banda, “Antes que só um quase” chega às plataformas virtuais no próximo dia 30 de agosto, com participação especial de Alessandra Leão, Maurício Takara, Valério, Fidura, Cadu Simão e Gabriel Oliveira e contará com dezesseis faixas. A música carro chefe “Embalagem alta cultura”, já lançada, discute o campo da arte enquanto espaço pouco democrático, mantendo o espírito crítico e a leveza da banda em suas referências político/ filosóficas reforçada em seu refrão “a elite aplaude, a imprensa apoia”.
Para ouvir a Banda Nã: