Nossa querida Zilah Wendel Abramo (1926-2018) faleceu nessa quinta-feira em sua residência em São Paulo.

Fundadora do Partido dos Trabalhadores, em 1996, integrou o grupo que deu continuidade aos estudos e propostas esboçados por Perseu Abramo para constituição da fundação que seria criada pelo partido. Quando esta foi instituída, foi indicada pelo Diretório Nacional do PT para compor a primeira diretoria, tendo exercido o cargo de vice-presidente de 1996 a 2003 e de presidenta do Conselho Curador de 2003 a 2012, quando foi alçada a presidenta de honra dessa instância.

Em 1952, Zilah casou-se com Perseu Abramo. Sobre essa união ela escreveu em Teoria e Debate: “Pelo horóscopo chinês, nosso casamento não poderia durar. A serpente (Perseu), que é o símbolo da sabedoria e da prudência, não poderia conviver com o tigre (Zilah), impetuoso e imprevisível, que tanto pode se tornar um herói quanto um bandido”. Contrariando essa previsão e rindo da sabedoria oriental, viveram juntos mais de 43 anos. Tiveram cinco filhos: Laís, Mario, Helena, Bia e Marta.

Formada em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo, costumava dizer que sua única contribuição para a Sociologia brasileira foi participar, com Perseu, da formação de duas filhas sociólogas. Tendo trabalhado na administração pública, especialmente na área de recursos humanos, foi professora, também nessa área, apenas por dois anos (1962 a 1964), na Universidade de Brasília.

Nos anos 1950, militou no Partido Socialista Brasileiro (PSB) e, na década de 1970, Zilah participou ativamente do movimento pela redemocratização do país e junto ao Comitê Brasileiro pela Anistia (CBA-SP). Na Fundação Perseu Abramo não deixava passar a oportunidade de relembrar os momentos mais significativos de resistência da esquerda brasileira, como contra o Golpe de 1964 e o AI-5, o assassinato de Vladimir Herzog, as greves do ABC, o movimento pela Anistia, a fundação do PT e a campanha das Diretas Já. Frisava sempre a importância de rememorar os fatos passados e completar as lacunas de informação existentes. Foi coorganizadora com Flamarion Maués do livro Pela Democracia, Contra o Arbítrio: A oposição democrática, do golpe de 1964 à campanha das Diretas Já, editado pela Fundação, coletânea de depoimentos e artigos publicados nas páginas especiais produzidas pela Fundação Perseu Abramo em seu portal.

Orgulhava-se muito de suas amizades, mencionemos uma simbólica para não sermos injustos com as demais, a que dedicava a Antonio Candido. “Fomos companheiros no PSB dos anos 50, continuamos a lutar com as mesmas bandeiras, na resistência contra a ditadura, especialmente na grande greve do funcionalismo de 1979, quando ele atuava como vice-presidente da Adusp e eu integrava as hostes da Saúde. Finalmente nos encontramos no Colégio Sion, no dia da fundação do PT. Quando vi Antonio Candido, entre os demais companheiros do PSB antigo, tive a certeza de que estava no lugar certo”.

Uma descrição de Zilah, sem referência à sua fiel devoção ao time do coração, ficaria inacabada. “Os corintianos, como nós dois, não se deixam abater pelos momentos difíceis da vida”, escreveu a José Genoino em outubro de 2012.

Informações
O velório será  nesta sexta-feira, 17 de agosto das 9h às 15h no Funeral Home, à rua São Carlos do Pinhal, 376, em São Paulo, e o enterro às 17h no Cemitério Gethsêmani, no Morumbi.

 

 

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