Artistas lotaram o Oficina em lançamento de Lula Livre Lula Livro
Centenas de escritores, artistas, intelectuais e militantes lotaram o Teatro Oficina, em São Paulo, na noite de segunda-feira, 13 de agosto, para acompanhar o lançamento do livro-manifesto pela liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, intitulado Lula Livre / Lula Livro, antologia que reúne a produção de Augusto de Campos, Chico Buarque, Raduan Nassar, Aldir Blanc, Alice Ruiz, Chico César, Frei Betto, Laerte, Eric Nepomunceno, Noemi Jaffe, Chacal, Caco Galhardo, Marcia Denser, Gero Camilo, Raimundo Carrero e Xico Sá, entre outros 90 autores. O evento transformou-se em um sarau, com intervenções de vários poetas.
De acordo com os organizadores, os escritores Ademir Assunção e Marcelino Freire, o livro é um “grito” de “inconformismo daqueles que consideram a prisão de Lula uma aberração jurídica-política-midiática, com objetivo maior de tirá-lo das eleições presidenciais deste ano no tapetão, na cara dura.”
Na apresentação, uma analogia entre o que ocorre hoje com Lula e um dos livros mais influentes da História: “Joseph K., o conhecidíssimo personagem de Franz Kafka, se vê enredado em um processo judicial cujas origens desconhece e cujo desenrolar vai se tornando cada vez mais obscuro, sórdido e absurdo. O processo que assistimos no Brasil contemporâneo, contra uma figura pública central da história política dos últimos 40 anos, guarda semelhanças e dessemelhanças com o enredo kafkiano: se o seu desenrolar expõe uma lógica absurda, suas origens e fins são muito delineáveis”.
O anfitrião José Celso, fundador do Teatro Oficina, subiu ao palco e denunciou o processo de higienização do bairro da Bela Vista, que busca expulsar a população pobre do centro e que ameaça também o histórico Teatro Oficina. E disse que Lula representa uma luta de todos pela vida. “Lula é um ser cosmopolítico, ele não é só um político, é um ser da vida. Ele prefere ficar preso do que ser libertado e não concorrer às eleições. Muita gente não compreende a grandeza dessa causa”, afirmou.
Poema de Glauco Mattoso publicado no livro:
Transparente Lulismo
Alguem me comparou a Borges, mas
dizendo que o “maior” cego seria
aquelle que fez vista grossa. Faz
menção a um perseguido, à farsa fria.
Refere-se à prisão do Lula. Audaz
foi este, emquanto deu-nos utopia
possível no paiz dos orixás
que fecham menos corpos, hoje em dia.
Lulista fui e sigo sendo, em paz
commigo mesmo. Fiz o que faria
qualquer dos eleitores, quando attraz
estavamos da mesma poesia.
Compuz-lhe duas “chartas”, uma assaz
de esquerda, outra já apoz a economia
com elle prosperar. Todo esse gaz
nas paginas de IMPRENSA a gente lia.
O nome disto dista do que, nas
nações em crise, é “golpe” ou “putsch”: a via
é mais machiavellica. Me appraz
chamar de “conspirata”. Eu chamaria.
Não vejo um golpe. Vejo uma sagaz
manobra da mendaz democracia
que temos. O lulismo, acho, não jaz
vencido, nem cegado, todavia.
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