Na Argentina castigada pelo (des)governo de Mauricio Macri, membro da coalizão política “Cambiemos”, o Poder Executivo e setores do Poder Judiciário estão fazendo tudo para desviar a atenção da população do desastre que está sendo o projeto neoliberal neste país.

A mais recente iniciativa é uma investigação baseada no que vem sendo chamado de “cadernos K” e a detenção de vários ex-integrantes dos governos de Nestor e Cristina Kirchner. Nestes papéis, um motorista ligado ao ministério de obras públicas durante estes governos relatou os supostos esquemas de corrupção que teria presenciado durante dez anos em oito cadernos.

O rebuliço gerado por este denúncia já está sendo chamado de “lava jato argentina” e as semelhanças com que o ocorreu no Brasil realmente são grandes. Em primeiro lugar, a tentativa de corroer o legado positivo dos governos Kirchner, com uma narrativa de corrupção de governos progressistas que muito fizeram pelo país e pela população. Também se tenta instigar a população contra a ex-presidenta Cristina Kirchner por meio da mídia que apoia o modelo neoliberal proposto por Macri e do Judiciário que, no caso argentino, já tem seu próprio Moro, o juiz Bonadio, ao mesmo tempo que desvia o foco da sociedade do desastre que é o atual governo.

Além disso, os tais cadernos, usados como provas, têm origem duvidosa. Foram apresentados em cópias xerocadas, pois os originais teriam sido queimados, e foram entregues pela ex-esposa do motorista que supostamente os escreveu a um jornalista conservador que levou o material para o Judiciário, a fim de proporcionar uma investigação “isenta”. Entretanto, o dito motorista possui baixo grau de instrução mas, apesar disso, sua escrita foi feita num espanhol impecável, isso sem falar nas cópias xerox e no fato de que os cadernos possuem a data de 2016, mas os relatos teriam sido feitos ano a ano durantes os governos de Cristina, principalmente, que se iniciaram em 2007!

O país está passando por um período turbulento, com crise econômica gravíssima que desembocou em inflação batendo os 30%, desvalorização brusca do peso argentino e um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para conseguir um empréstimo de 30 bilhões de dólares. Esses fatos abalaram a popularidade de Macri e de seu projeto e, para se somar a isso, descobriu-se recentemente um banco de dados que mostra mais de três mil falsas doações à campanha do Cambiemos em 2015.

Se juntarmos os fatos, não é difícil perceber as relações entre, de um lado, Macri perdendo apoio e, de outro, a necessidade de desconstruir Cristina Kirchner, uma vez que a atual senadora por Buenos Aires já desponta como favorita para as eleições presidenciais de 2019. Qualquer semelhança com o Brasil não é mera coincidência.

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