Slamers debatem Dossiê Periferias na Fundação Perseu Abramo
Na noite de 02 de agosto, na sede da FPA, o Projeto Reconexão Periferias reuniu-se com representantes de coletivos culturais das periferias, slammers e ativistas para apresentar e debater o conteúdo de seu Dossiê “Cultura e reexistências nas periferias”.
O Dossiê Periferias é uma das ações do Projeto, que busca aprofundar e consolidar o conhecimento sobre um tema específico da realidade desses territórios, e projetar diferentes cenários a partir da conjuntura atual e da capacidade de intervenção política dos movimentos sociais e partidos. Um dos grandes objetivos do Dossiê é que ele seja debatido com os mais diversos públicos, e que de fato contribua para fortalecer as estratégias políticas existentes nas periferias do Brasil.
Jaqueline Lima, umas das autoras do Dossiê, apresentou o conteúdo do documento, que foi construído tomando os atores e coletivos culturais das periferias como sujeitos que ressignificaram a ideia produzida sobre seus territórios. Se o processo de formação das periferias deu espaço para uma narrativa era unicamente a de que esses territórios eram os locais da precariedade, as pessoas que lá moravam reorganizaram essa narrativa a partir da atuação política e cultural, construindo as periferias também como um lugar de potência, de resistência.
O documento debate também a apropriação e o consumo de símbolos da cultura das periferias, feita pelas elites econômicas do país, como forma de tentar diluir o conteúdo político das mesmas, enquanto que os sujeitos que as produziram seguem sendo perseguidos e discriminados. Um exemplo dessa realidade é a criminalização do samba ou do funk nas periferias, enquanto que em territórios elitizados símbolos caricaturizados dessas manifestações culturais são celebrados.
Os coletivos das periferias buscam respostas locais para reivindicações ao poder público. Assim, reafirma-se que não há como pensar a ampliação das políticas culturais sem pensar também a mobilidade dos sujeitos que a produzem.
No atual cenário em que políticas de fomento a cultura sofrem cortes, que o fundamentalismo conservador avança na atuação para inibir as manifestações culturais das periferias e as esferas legislativas e executivas voltam a criminalizar e invisibilizar esses atores, a pergunta feita para o debate coletivo é como fortalecer os espaços de discussão e luta política das periferias, estando dentro ou fora da institucionalidade do poder público?
Representantes dos coletivos presentes ressaltaram a importância do Projeto Reconexão Periferias como um todo, como uma necessidade de rearticulação do Partido dos Trabalhadores, por meio da FPA, com os atores de periferias, que, mesmo após o golpe, seguem atuando nos territórios, a partir das demandas concretas e cotidiana das pessoas. Nesse sentido, apresentou-se a proposta de organizar ações de contra golpe ao atual cenário, potencializando as denúncias vindas das periferias.
Apontou-se também, para a necessidade de autocríticas sobre como espaços de esquerda se distanciaram das periferias e sobre como os mesmos também reproduzem hierarquias. Para reverter tal processo, o público presente afirmou a necessidade da esquerda tomar a agenda e as narrativas dos sujeitos das periferias como centrais, uma vez que são narrativas de vidas reais, cotidianas, que tem papel potente pra orientar as políticas púbicas de Estado.
Para André Pereira, do Slam do Grito, a esquerda deve “dar o microfone a essas pessoas, mesmo sabendo que elas não vão ficar esperando isso acontecer, porque elas mesmas vão correr atrás, mas para aproximar a política institucional da política informal das periferias é preciso dar esses microfones, abrir os espaços, agir politicamente com intuito de chegar de novo nas periferias”.
Akins Kintê ressaltou a importância do Dossiê e da possibilidade que ele traz de fazer a relação dos coletivos de cultura, dos movimentos de periferias hoje, com os movimentos históricos de quilombo, no sentido de que “os movimentos atualmente promovem uma aquilombação ao tentar romper com a sociedade de exploração, e aí não cabe machismo, racismo, homofobia, nesses ambientes.”
A noite terminou com poesia de qualidade vinda dos próprios presentes, também como forma de registrar a manifestação de suas opiniões sobre o debate.
O Dossiê “Cultura e (re)existências nas periferias” está disponível para download e para debates em geral e pode ser encontrado aqui.