10ª Cúpula do Brics defende multilateralismo e livre-comércio
Entre os dias 25 e 27 de julho foi realizada em Johanesburgo, na África do Sul, a 10ª Cúpula do Brics. Além dos membros efetivos do bloco, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, participaram os líderes do chamado Brics Plus e 22 países africanos. O principal tópico discutido foi o comércio internacional, no qual se reafirmou a defesa do multilateralismo, que passa pela expansão da integração intrablocos, e de valorização da Organização Mundial do Comércio (OMC), o que diverge da atuação do atual governo de Donald Trump nos Estados Unidos, que está em guerra comercial com os chineses, por exemplo.
O Brics foi formado buscando estabelecer diálogos estratégicos entre os maiores países emergentes do mundo. Tudo começou com artigos feitos por analistas do mercado financeiro no começo da década passada, nos quais previam que as economias chinesa, brasileira, russa e indiana poderiam ultrapassar as do G7 em médio prazo. Mas, somente em 2008, houve de fato a primeira reunião formal entre os governos dessas economias e a conformação do bloco. Em 2011 ocorreu a adesão da África do Sul que, conjuntamente com Brasil e Índia, já integrava Fórum de Diálogo Índia, Brasil e África do Sul (IBAS).
Em plataformas como a OMC e o G20, o Brics mostrou sua importância ao dar maior poder de barganha no cenário internacional para seus membros. Puderam, por exemplo, denunciar condutas comerciais injustas dos americanos e europeus. Isso, é claro, em um período no qual o multilateralismo, bem como os órgãos internacionais, estavam em alta. Porém, atualmente a conjuntura é outra, sobretudo pelo protecionismo e unilateralismo que são características primordiais da política externa do governo de Trump.
O caso mais emblemático dessa mudança causado pelo Estados Unidos, dentro do Brics, é a postura atual da China. Se antes eram os estadunidenses que se portavam como os defensores do comércio multilateral aberto e “justo” diante dos chineses, que eram considerados protecionistas demais, hoje é a China que reivindica para si o primeiro papel. Inclusive ambos países estão travando uma guerra comercial que começou com a sobretaxa feita pelos americanos às importações de aço e alumínio – o que também afetará negativamente o Brasil e outros.
Apesar desse embate com as medidas tomadas pelos Estados Unidos no cenário internacional, muito pouco de concreto foi acordado durante a Cúpula. Talvez a questão mais palpável tenha sido o memorando de entendimento que prevê a criação em São Paulo de um escritório do Novo Banco de Desenvolvimento, comumente conhecido como Banco do Brics. Também houve uma crítica velada à intenção de Israel de considerar Jerusalém como sua capital, local que também é reivindicado pelos palestinos. No documento final, afirma-se que a definição de capitais deveria ficar para a última fase das negociações de paz. No entanto, o tema que mais teve destaque foi a defesa da OMC, mostrando que o comércio internacional foi realmente a preocupação principal da reunião.