Na era da austeridade, o Estado de bem-estar social e a universidade, duas importantes instituições públicas, estão sob acirrado ataque. É o que aponta o artigo “Educação superior, Estados de Bem-Estar Social e Austeridade: pressões para a concorrência em instituições públicas” do Prof. Marek Kwiek. O ataque instituições são duas faces da mesma moeda, a austeridade.

O pesquisador, apesar de focar no contexto europeu, onde se pode falar de um Estado de bem-estar social mais estabelecido, ao contrário da América Latina, traz reflexões que podem ajudar a compreender os efeitos da austeridade do nosso lado do Atlântico. Para o Professor, essa onda de ataques às Universidades, em especial as públicas, fazem parte de um contexto mais amplo de questionamento de um modelo de desenvolvimento e com forte papel do Estado na redução das desigualdades. Tanto o Estado de bem-estar Social quanto as universidades têm operado na Europa em condições financeiras adversas e sido expostos a reformas sistêmicas de larga escala.

Para o autor, as universidades foram perdedoras da reconfiguração europeia com a ascensão do neoliberalismo e continua perdendo, em especial com as políticas econômicas de austeridade aplicadas no pós-crise (2008). Isso ocorre não só pelas mudanças políticas, mas também por mudanças demográficas: durante o pós-guerra, por exemplo, não havia, segundo o autor, competição interna explícita entre diferentes tipos de necessidades sociais como agora, em que os recursos do Estado para a educação superior sofrem maior demanda dos sistemas previdenciários e de saúde, com o envelhecimento da população. Com ele, pode parecer mais premente investir no cuidado da geração sênior, em detrimento das novas gerações. Além disso, o modelo do pós-guerra baseado no homem provedor e economias nacionais e fechadas já não existe, colocando pressão sobre o arranjo previamente existente. Tudo isso muda a forma como a sociedade, a mídia e os policy makers encaram a educação superior.

Enquanto isso, no Brasil, as instituições de ensino superior públicas têm sofrido graves restrições orçamentárias que inibem o processo de inclusão social pelo qual tais instituições tinham passado nos anos 2000. Acompanhada dessa crise de financiamento, em especial a partir da adoção da austeridade fiscal, vêm os ataques às instituições públicas, em geral vistas como ineficientes, inchadas, atrasadas, em oposição às entidades privadas (e, por fim, a defesa da privatização das instituições de ensino superior públicas), como é o discurso que também tem sido propagado para convencer a população da suposta necessidade de venda de estatais brasileiras.

 

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