Na última terça-feira, 26 de junho, o Conselho Monetário Nacional (CMN) decidiu fixar a meta de inflação de 2021 em 3,75%. A decisão, tomada de comum acordo entre os Ministros da Fazenda, do Planejamento e o presidente do Banco Central é irresponsável e equivocada.

Irresponsável porque foi tomada por um trio de autoridades econômicas de um governo ilegítimo e em fim de mandato, em meio a uma conjuntura econômica de grande turbulência e justificada por uma trajetória cadente da inflação oficial que, antes de mais nada, é uma das mais evidentes expressões da depressão econômica do país.

Equivocada porque impõe às futuras autoridades econômicas uma camisa de força excessivamente apertada que exigirá juros por demais elevados sempre que a atividade econômica começar a aquecer. Esquecem-se – ou preferem fingir que não veem – que o regime de metas de inflação brasileiro é uma jabuticaba que antes de mais nada serve para adoçar o bico dos rentistas nativos. Nenhum outro regime no mundo funciona com os mesmos parâmetros e a mesma rigidez e, por isso, querer baixar o centro da meta na marra levará inexoravelmente à uma hipersensibilidade de nossa métrica inflacionária e ao consequente uso abusivo dos juros.

Mas qual seria então a alternativa?

Em primeiro lugar, já que o argumento é que queremos nos aproximar das taxas de inflação vigentes nos países desenvolvidos, deveríamos nos inspirar, por exemplo, nos sistemas adotados nas economias ricas do mundo anglo-saxão. Por lá, a autoridade monetária tem sim uma meta de inflação a perseguir, mas do cálculo da inflação são expurgadas todas as variações de preços que estejam ocorrendo em virtude de choques exógenos (i.e., que não têm nada a ver com desequilíbrios entre oferta e demanda), como por exemplo uma quebra de safra ou uma guerra entre países produtores de petróleo.

Além disso, nenhum outro país obriga o seu Banco Central a manejar a inflação para o centro da meta dentro do chamado ano-calendário, isto é, até o mês de dezembro de cada ano. A experiência internacional demonstra que o mais razoável é trabalhar com um período mais largo e que seja móvel: que o BC esteja sempre mirando a meta para dezoito ou 24 meses à frente do momento em que ele atua na definição da taxa de juros.

Por fim, é fundamental ter em mente que o patamar da inflação brasileira é sensivelmente mais alto do que aquele que se encontra em países desenvolvidos porque aqui ainda mantemos alguns preços indexados (por exemplo, alugueis, mensalidades escolares, serviços de utilidade pública) e, principalmente, porque temos dois terços das famílias brasileiras com renda mensal inferior a dois salários mínimos e sempre que quisermos melhorar a vida dessa gente haverá inexoravelmente uma pressão sobre alguns preços e serviços de consumo popular que resultará em algum aumento da taxa de inflação.

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