Da América à Europa: a campanha contra os imigrantes
Há algum tempo observamos a escalada retórica de políticos e partidos que constroem seu discurso com base na condenação dos imigrantes. Entre eles, podemos citar o atual presidente americano, Donald Trump, a aliança entre o Liga Norte e o Movimento 5 Estrelas que, atualmente, governam a Itália, e as posições da União Social-Cristã na Alemanha. Todos esses casos, nos últimos dias, estão envolvidos com ataques à imigração.
Começando pelos Estados Unidos de Trump, que, não contente com a intenção de construir um muro na fronteira com o México e com a eliminação do programa Daca, que concedia vistos às pessoas que entraram no país ilegalmente quando eram crianças, agora, com sua política de tolerância zero, está separando pais e filhos. Desde maio, aqueles que são pegos tentando atravessar de modo ilegal para os Estados Unidos sofrem processo criminal e ficam detidos até a decisão judicial.
Sob esta justificativa, num ato de suprema crueldade, crianças e adolescentes que acompanhavam os pais, são separados deles e vão para abrigos. Um deles, localizado no Texas, tornou-se conhecido como “La Perrera”, “O Canil”, por se tratar de um complexo com várias jaulas de alambrado como é característico de abrigo de animais.
No caso europeu, a questão da imigração é também espinhosa e traz perigo até mesmo para a própria coesão da União Europeia. Basta lembrarmos que o Brexit teve como pano de fundo o debate sobre este tema. Os governos que se posicionam contra os imigrantes, geralmente também adotam posições eurocéticas, como acontece hoje na Itália. Isso ocorre porque, dentro do bloco europeu, as pessoas podem circular livremente, basta conseguir entrar em um dos países membros. Para os imigrantes, o território italiano é, assim, uma importante porta de entrada, já que está localizado perto da costa africana e do Oriente Médio.
Entretanto, o atual governo não está permitindo mais que os barcos transportando imigrantes atraquem na Itália e isso está gerando atritos entre este e outros países europeus. Por exemplo, no dia 17 de junho, embarcações com mais de seiscentas pessoas que estavam saindo da África conseguiram chegar, finalmente, em terra firme na Espanha, depois de terem sido bloqueados pela Itália. O presidente francês, Emmanuel Macron, criticou a posição italiana e a chamou de cínica e irresponsável, criando tensões diplomáticas entre os dois países.
Já na Alemanha as discussões acerca da imigração estão abalando internamente o país que é a “cabeça” da União Europeia. O partido aliado de Angela Merkel e que foi crucial para a formação de seu governo, a União Social-Cristã, deu quinze dias, contando a partir do dia 18 de junho, para que ela negocie com a União Europeia acordo para limitar os imigrantes no país sob pena de romper a coalizão governamental CDU/CSU e SPD. O ultimato se deu no momento que o partido perde terreno para a extrema-direita, Alternativa para a Alemanha, nas eleições na Baviera, no segundo semestre, e que vem crescendo a partir do discurso xenófobo.
Da América à Europa, os supostos países desenvolvidos, exemplos de civilidade e democracia, se mostram sendo, na realidade, exemplos de intolerância e retrocesso. Também, é bom recordar que tais países se desenvolveram espoliando o território daqueles que, hoje, são os imigrantes e que ao longo dos últimos dois séculos receberam imigrantes italianos, alemães, estadunidenses, entre outros, de braços abertos.
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