Unidade da esquerda deve ir além da disputa eleitoral de 2018
Texto por Henrique Nunes
Foto por Eduardo Matysiak
Pela terceira semana seguida, a Vigília Lula Livre em Curitiba é palco de mais uma mesa de diálogos cuja proposta é fortalecer a Frente Democrática formada por sete partidos de esquerda, manter a luta em defesa da democracia e pelo direito de Lula ser um dos candidatos nas eleições presidenciais de outubro.
No encontro desta quinta-feira (24), representantes das fundações partidárias traçaram panorama sob a perspectiva de uma agenda progressista para barrar e superar os constantes retrocessos impostos à população brasileira a partir do golpe de 2016.
E o alicerce para manter a luta contra as políticas neoliberais do golpista Michel Temer passa fundamentalmente pela manutenção da unidade entre os partidos da Frente Democrática formada pelo PT, PCdoB, Psol, PDT, PSB, PCO e PSB.
“Tem sido muito profícuo o debate das fundações. Independentemente de os partidos terem candidatos próprios, temos construído uma base programática unitária e que tem sido fundamental para pensar o Brasil daqui para frente”, define Renato Simões, um dos coordenadores do Plano Lula de Governo.
Maria Helena, representante do núcleo da APP Curitiba Sul, concorda: “Apesar do momento sensível pelo qual passamos temos a oportunidade de transformá-lo num momento de reflexão e de unidade para construção de propostas para o Brasil. A coisa mais importante é a gente se fortalecer para manter a luta. E que ela seja vitoriosa”.
Quem abriu a série de exposições entre os representantes das fundações que compunham a mesa foi Francisvaldo Mendes de Souza, da Fundação Lauro Campos (Psol). “A democracia que está em debate hoje. Na verdade o lado de lá não quer nenhuma democracia e sempre irão passar por cima de lei”, enfatiza.
Souza aproveitou para realizar resgate histórico para tentar compreender o que acontece no Brasil de hoje. “A elite sempre utilizou o Estado para seus interesses. No Brasil tem um agravante porque o Estado é usado para interesses particulares. É o interesse pessoal de determinada família. Quem está no poder se apropria do Estado para seus próprios interesses”, opina.
Tais interesses, prossegue Souza, resultaram em mais um ataque à recente democracia brasileira. “Nós achávamos que a democracia estava preservada, mesmo estando apenas na letra da lei. Eles vão passar por cima de qualquer viés democrático que ferir os interesses deles. Foi assim com a Dilma. Por isso temos que construir o nosso projeto e não podemos parar nas eleições. Temos que ramificar isso em toda a sociedade e mostrar que tem uma frente que pode reerguer o país”, conclui.
Joaquim Soriano, da Fundação Perseu Abramo, pondera que a construção democrática é sempre um caminho tortuoso dada a trajetória do próprio país. “A classe dominante no Brasil não gosta do voto. E tratam os representantes do povo como populistas. Numa democracia de massas quando o povo elege é muito difícil votar em proposições que sejam contra o povo. Isso explica a popularidade insignificante de um presidente que não foi eleito como Michel Temer”, explica.
Soriano também faz paralelo entre o Golpe Militar de 1964 com o golpe jurídico-parlamentar de 2016. “O golpe recente não foi dado pelas forças armadas. O golpe é dado de forma distinta mas com o mesmo objetivo: derrubar o programa que foi eleito pelo povo por quatro eleições consecutivas pra impor um programa que se afasta do povo”.
Soriano também concorda que a unidade da esquerda é a peça-chave para conter os retrocessos. “Querem transformar o Brasil numa colônia. Isso precisa ser barrado e precisa da participação popular. Precisa do povo e precisa das eleições, que não estão garantidas de maneira democrática porque lula está preso político. É de uma importância transcendental buscar uma unidade dos partidos progressistas. Temos diferenças. Mas frente ao que é o programa da classe dominante, as nossas diferenças são absolutamente insignificantes”.
Rubens Diniz, Fundação Mauricio Grabois (PCdoB), faz coro aos que veem similaridades entre a história política de Lula com a luta pela democracia no Brasil. “A história de Lula e da democracia estão entrelaçadas. Hoje, neste momento que a democracia está maculada, os destinos de ambos novamente se cruzam”, lamenta.
Diniz, portanto, acredita que o caminho para retomar a democracia brasileira passa pela liberdade do ex-presidente Lula. “Acreditamos que as saídas para o Brasil se passam pela política. O que vemos neste momento é um desrespeito ao poder soberano do voto popular, ao direito de Lula ser candidato”.
Sobre o atual cenário econômico e social do Brasil, Diniz diz que “a ordem do Temer é neoliberal e neocolonial e visa desmontar os instrumentos essenciais do estado brasileiro. É uma ordem que visa manter privilégios. Por isso acreditamos que a política seja o centro orientador para construir saídas e vencer o pleito eleitoral de 2018. Há condições, sim, para que as forças progressistas vençam a quinta eleição presidencial seguida”.
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