O Brasil perdeu hoje o jornalista e militante Audálio Dantas
O Brasil perdeu hoje um grande intelectual. Faleceu em São Paulo o premiado jornalista, escritor, ex-deputado federal e ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo (SJSP) e da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) Audálio Dantas.
Repórter dedicado, editor respeitado e lutador aguerrido na defesa dos Direitos Humanos, Audálio é reconhecido por colegas como um dos mais importantes jornalistas brasileiros do último século, tendo recebido em vida diversos prêmios e homenagens.
O velório acontecerá até as 10h de amanhã, 31 de maio, no Hospital Premier (Av. Jurubatuba, 481, Vila Cordeiro), na zona sul paulistana, e, a partir das 12h, no auditório Vladimir Herzog, na sede do SJSP (Rua Rego Freitas, 530, Sobreloja), na região central. A cremação será no Cemitério Vila Alpina e o horário da cerimônia será divulgado assim que definido pela família.
Trajetória
Audálio Dantas nasceu em Tanque D’Arca, no estado de Alagoas, em 8 de julhos de 1929. Iniciou sua carreira em 1954, como repórter do jornal Folha da Manhã. No ano seguinte, já escrevia para o suplemento dominical do jornal, lugar de destaque na redação.
O primeiro prêmio como repórter veio logo no início da carreira. Ao ser destacado para cobrir o lançamento do livro Grande Sertão: Veredas, em São Paulo, Audálio tentou entrevistar Guimarães Rosa, que se negou a falar. Como bom repórter, Audálio passou o evento todo ao lado do escritor, anotando tudo o que falava aos leitores e voltou ao jornal com uma grande entrevista e uma lição sobre a prática da reportagem.
Pouco depois, trabalhando em uma reportagem sobre a Favela do Canindé, o jovem repórter descobriu a escritora Carolina de Jesus, sobre quem escreveu uma reportagem publicada pela Folha da Noite.
Em entrevista publicada em 2014 pelo jornal O Globo, Audálio explicou ao repórter Maurício Meireles o que aconteceu.
“Estava indo todos os dias há três dias quando a encontrei. Ela falava alto, dizia que ia botar o pessoal no livro. Aí quis saber qual era o livro. Então, ela me mostrou os cadernos dela no barraco. No meio, tinha esse diário, que me chamou atenção. Era de uma força muito grande e fazia uma reportagem sobre a favela que nenhum repórter poderia fazer. Ela já tentava publicar fazia anos e viu em mim uma oportunidade. Tive paciência de ler e vi que era ouro”, disse Audálio a Maurício Meireles.
Em 1959, já na revista O Cruzeiro, da qual foi também redator-chefe, Audálio publicou outra reportagem sobre Carolina de Jesus. A reportagem teve repercussão internacional e, no ano seguinte, a Editora Ática publicaria uma compilação dos textos do diário da escritora. Surgia então o clássico livro Quarto de despejo: diário de uma favelada.
Após sair de O Cruzeiro, em 1966, Audálio passou pelas revistas Quatro Rodas(editor de Turismo) e Veja(correspondente de guerra), até se tornar redator-chefe na editora Abril. Durante este período, cobriu a Guerra do Futebol (1969); denunciou a superlotação do Hospital Psiquiátrico do Juqueri; produziu uma série de reportagens sobre o município de Canudos (BA), que estava prestes a ser inundado pelo represamento do rio Vaza-Barris e denunciou a maratona de quatro dias de dança de carnaval, concurso desumano produzido pela TV Record.
Em 1972, junto a Múcio Borges Fonseca, recebeu o Prêmio Sudene de Jornalismo, pela produção de um especial sobre o Nordeste brasileiro para a revista Realidade, da qual foi redator e editor. Audálio passaria ainda pelas revistas Manchete e Nova.
Audálio foi presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo de 1975 a 1978. Sua gestão à frente do sindicato teve como principal marca as denúncias contra a Ditadura Militar, em função da morte do jornalista Vladimir Herzog, assassinado no Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) e declarado vítima de suicídio pelo regime.
Em 1983, se tornou o primeiro presidente eleito por voto direto da Federação Nacional dos Jornalistas. Em 2005, foi eleito vice-presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), onde organizou o Salão do Jornalista Escritor.Audálio deixou a entidade em 2008.
Eleito deputado pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB) em 1978, Audálio se manteve na trincheira da luta contra a violência da Ditadura Militar, tendo dedicado grande parte de seu mandato à luta pelas liberdades em geral e, especialmente, pela Liberdade de Imprensa.
Por sua luta, recebeu em 1981 o Prêmio de Defesa dos Direitos Humanos, oferecido pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Depois de dedicar longo período à luta política, Audálio foi diretor-executivo da revista Negócios da Comunicação, de 2008 a 2014. Em 2012, foi reconhecido como Jornalista do Ano pela Associação Nacional das Empresas de Comunicação Segmentada (Anatec)
Diversas das reportagens de Audálio se tornaram livros, como O circo de desespero,Tempo de luta – Reportagem de uma atuação parlamentare O chão de Graciliano. Em 2009, lançou o livro O Menino Lula, reunindo histórias contadas pelo ex-presidente sobre sua infância e as lutas sindicais, até a conquista da Presidência. Em 2012, escolheu algum de seus melhores textos para a obra Tempo de reportagem, em que revelou os bastidores da produção de cada reportagem.
Sobre o jornalista Vladimir Herzog, Audálio escreveu em 2013o livro As duas guerras de Vlado Herzog, contando como o jornalista foi vítima dos nazistas na Iugoslávia, nos anos 1940, e das forças de repressão do Regime Militar, que o mataram em 1975. Com estelivro, o jornalista ganhou o “Prêmio Jabuti de Reportagem e de Livro do Ano – Não ficção” e foi reconhecido intelectual do ano de 2013 pela União Brasileira de Escritores (UBE).
Em 2013, foi escolhido presidente da Comissão Nacional da Memória, Justiça e Verdade dos Jornalistas Brasileiros. No ano seguinte, lançou o livro Céu e Luiz – 100 anos de Luiz Gonzaga, seu último livro.
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