A violência militar no Brasil, de Bernardo Kucinski e Ítalo Tronca
Diante dos pedidos de Intervenção Militar, que circulam atualmente pelos mais diversos veículos, reproduzimos um dos 23 depoimentos e histórias contidos no livro Pau de Arara: a violência militar no Brasil, lançado pela Fundação Perseu Abramo. Foi a primeira obra que divulgou internacionalmente a violência instituída pelo regime militar contra a população brasileira. Foi lançado na França, em 1971, e no México, em 1972. Já no Brasil, só em 2013.
Ainda há muito dessa história para conhecermos, mas já o suficiente para combater qualquer investida autoritária contra a democracia e o estado de direito.
“Documento 5
Declaração de Manoel Conceição dos Santos, presidente do sindicato rural de Pindaré-Mirim, Maranhão, preso e ferido a tiros em 13 de julho de 1968 (Texto publicado em Políticas brasileiras e movimentos cristãos, revista Mensagem, fevereiro de 1970).
Eu, Manoel Conceição dos Santos, presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Pindaré-Mirim, desminto as notícias publicadas pelos jornais de São Luís [do Maranhão] e, principalmente, as declarações do Secretário de Segurança Pública feitas em 27 de julho de 1968.
Em nome da verdade, devo declarar o seguinte: na manhã de 13 de julho último, vários trabalhadores esperavam atendimento no posto médico do Sindicato. Uma caminhonete parou a certa distância do lugar; sete homens armados de fuzis e revólveres desceram. O delegado de Polícia, acompanhado de um soldado, me chamou e eu me dirigi até ele. Qual não seria a minha surpresa ao me ver agarrado pelos soldados, que dispararam cinco balas nas minhas pernas e atiraram também sobre muitas testemunhas, incluindo mulheres e crianças. Jogaram-me na caminhonete como a um animal. Dali me levaram para a prisão, gravemente ferido nos pés. Recebi os primeiro curativos cerca das 17h. Depois de três dias fizeram outros curativos, quando meus dedos estavam meio apodrecidos. No dia 17 me puseram em liberdade; para não morrer, tive que ir a São Luís para que me cortassem uma perna que já estava gangrenada. [São Luís, 30 de julho de 1968]”
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