O presidente da Argentina desde dezembro de 2015, Maurício Macri, foi celebrado pelas elites financeiras da América Latina como o menino de ouro do neoliberalismo. Sem precisar recorrer a expedientes golpistas, venceu nas urnas e montou um governo que tinha ex-CEO’s (diretores executivos) de grandes corporações internacionais no comando dos principais ministérios. Anunciava-se uma nova era, na qual experientes homens de negócios trariam para a gestão pública as melhores práticas do mundo corporativo.

Na “CEOcracia” implantada por Macri, nada menos que 31% dos cargos de confiança foram ocupados por executivos que vinham – sem escalas – do QG de empresas como J.P Morgan, Shell, Deutsche Bank, General Motors, Morgan Stanley, entre outras.

Entretanto, provavelmente escaldados pelo desastre produzido nas bandas de cá pelo ex-ministro J. Levy, os CEO’s de Macri preferiram adotar uma estratégia neoliberal gradualista. Depois de livrarem os exportadores do pagamento de impostos, a grande cartada foi entrar em acordo com os tenebrosos fundos abutres (ao custo de nove bilhões de dólares) para a Argentina poder voltar ao mercado internacional e captar dólares por meio da emissão de novos bônus da dívida pública.

Enquanto o fluxo de dólares se manteve positivo, nossos vizinhos ganharam fôlego econômico e político para levar ao parlamento as mesmas “reformas estruturais” que o ilegítimo Temer nos impôs por aqui. Segundo estimativas do economistas argentino Alfredo Zaiat, entre o início de 2016 e final de 2017, a Argentina foi o país emergente que emitiu o maior volume de títulos da dívida (133 bilhões de dólares), sendo que desse total nada menos que 82 bilhões de dólares fugiram do país, em grande medida por conta dos déficits crescentes em Conta Corrente (na qual se registram as transações de compra e venda de bens e serviços). Ou seja, o governo dos CEO’s se endividou de forma para lá de irresponsável para garantir divisas suficientes para os investidores internacionais retirarem seus capitais da pré-falimentar Argentina antes que ocorresse uma desvalorização cambial.

Mas, como era de se esperar, no momento em que os fundos estrangeiros perderam o apetite pelos títulos da dívida, o fluxo de dólares se reverteu e a casa caiu. Nos primeiros quatro meses de 2018 o peso argentino sofreu uma desvalorização de 35% (o que é muito grave para uma economia de alma dolarizada) e, na semana passada, em tentativa frustrada para conter a fuga de dólares, o Banco Central elevou a taxa de juros dos bônus argentinos para 40% a.a. O esforço, porém, foi em vão, levando o governo dos CEO’s a pedir um socorro de 30 bilhões de dólares ao FMI, para desespero da traumatizada população argentina.

Ao Brasil, o desastre argentino trará inevitáveis consequências – nem todas ruins! Por um lado, a desvalorização do peso e a escassez de dólares no principal mercado para a exportação de nossas manufaturas (75% dos automóveis exportados pelo Brasil vão para a Argentina) deve tirar ainda mais força de nossa capenga recuperação. Além disso, para nos proteger de um possível contágio, é muito provável que o BC brasileiro desista de nova redução da taxa Selic e já comece a sinalizar uma nova rodada de aumentos.

Por outro lado, o fracasso do governo dos CEO’s de nosso vizinho platino parece fincar o derradeiro prego no caixão das candidaturas à presidência que vinham se aninhando na centro-direita do espectro político brasileiro. Se até o momento já não dispunham de uma agenda capaz de entusiasmar a população, agora que o principal pupilo do programa neoliberal na América Latina jogou seu país no caos, não lhes sobrou nada para atrair os votos do ressabiado eleitorado brasileiro. Mais do que nunca, o problema da direita neoliberal nativa é que não tem nada a oferecer à nação. Mesmo quando tomam o poder na mão pesada, não conseguem fazer a economia funcionar para além dos seus próprios interesses argentários.

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