A compra da Somos Educação (antiga “Abril Educação”) pela Kroton marca a investida do grupo sobre a educação básica. A Somos Educação é dona de escolas e editoras como a Ática, Scipione e Saraiva, Anglo, Red Ballon, entre outros. Segundo dados do G1, após a aquisição da Somos, a educação básica passa de 3% a 28% da receita da Kroton.

Allan Kenji, especialista na atuação dos grupos empresariais na educação e sua vinculação com o capital financeiro, em entrevista a André Antunes (EPSJV/Fiocruz) relembra que a Kroton tem o dobro do tamanho de qualquer outro grupo: em termos de ativos financeiros, a Kroton é o maior grupo educacional do mundo.

Segundo Kenji, a nova incursão da empresa sobre a educação básica deve se concentrar sobre o chamado mercado premium, as escolas de renome com mensalidades de dois a três mil por mês, além de controlar o mercado de editoras e sistemas de ensino.

Para Kenji, a investida da Kroton coaduna com a visão de que a educação básica é um mercado a ser explorado, o que é facilitado pela reforma do ensino médio e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Para o especialista, a reforma do ensino médio era uma demanda estratégica para os grupos controladores da educação superior para o destravamento de matrículas de desistentes no ensino médio e continuidade da educação no âmbito superior. “E eles demandavam que o ensino médio aprovasse de forma automática, que fosse flexibilizado, que fosse destituído de um sentido próprio e servisse mesmo como um meio de trânsito entre o fundamental e a compra de vagas nas instituições superiores privadas”. Já a BNCC, para o especialista, “flexibiliza o suficiente para que se consiga ofertar para diferentes escolas e para diferentes frações de classe diferentes tipos educativos. Você pode ter essa escola premium para formar as frações que vão dirigir empresas e negócios, e ter para diferentes tipos de escola pública um direcionamento das habilidades das competências. Para nós, isso significa a possibilidade de eles ofertarem diferentes tipos de sistemas de ensino, conteúdos e materiais didáticos para diferentes frações de classe”.

Kenji relembra que a Tarpon, que era dona da Somos, também é dona de uma parcela da BR Foods. “O que a gente está vendo é que a educação é secundária em relação à valorização do próprio fundo. Se é educação ou se você está vendendo cerveja, tanto faz, porque o serviço em si não é sequer de conhecimento dos gestores dos fundos. Não interessa para eles qual é o serviço que está sendo ofertado. E, no entanto, são forças sociais concentradas com tamanha inserção em outros setores da economia brasileira que têm a capacidade de impor as políticas no âmbito do Estado. É o que a gente chama de se fazer Estado. Por isso eles podem fazer as próprias leis, alterar as regulações”.

A incursão da gigante na educação básica ocorre em um momento em que a regulamentação para o setor tem privilegiado o setor privado, além da vigência da Emenda Constitucional 95, que restringe as possibilidades de financiamento público do gasto social e abre espaço para o aumento da participação do setor privado na retirada de direitos, os transformando em mercadoria.

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