Um ano sem Belchior: apenas um rapaz latino-americano
Em 30 de abril de 2017, o Brasil perdeu Belchior. O livro Belchior – Apenas um rapaz latino-americano, do jornalista e escritor Jotabê Medeiros, mergulha em uma reportagem investigativa para compor a biografia daquele que foi um dos mais emblemáticos poetas e compositores da música brasileira. O autor percorre a trajetória de Belchior, desde Sobral, sua cidade natal, onde passou a adolescência em um mosteiro capuchinho e adquiriu profunda formação intelectual e amplo conhecimento em literatura, “costumava dizer que não gostava de ler livro com menos de mil páginas”. Ali entre os capuchinhos, o talento de Belchior já se revelava em versos gravados posteriormente.
Alguns anos depois, Belchior abandonou o mosteiro e passou em primeiro lugar no vestibular para medicina. Desde então, engajou-se na política da universidade, ligado à Ação Popular. Conheceu um grupo de poetas, cantores e atores do Ceará que compunham a efervescência cultural e a cena artística dos anos 70 em Fortaleza, entre eles: Fagner, Jorge Mello, Amelinha, Ednardo, Fausto Nilo, Petrúcio Maia, que o fizeram trocar a vida dogmática da religião pela vida boêmia da arte, apresentar suas primeiras composições e entregar-se definitivamente à música.
Jotabê Medeiros conta sobre a vinda de Belchior para São Paulo, os momentos de dureza morando numa construção, as parcerias com Marcus Vinicius, com quem tentou responder os tropicalistas e oferecer alternativas à música brasileira em versos longos, profundidade poética e raízes na literatura nordestina, cantando a realidade brasileira e latino-americana, como em seu primeiro sucesso “Eu sou apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior” ou “Tenho vinte cinco anos de sonhos e de sangue e de América do Sul, mas por força do meu destino um tango argentino me vai bem melhor que um blues”, em A palo seco.
Belchior definitivamente marcou uma época em que, segundo Jotabê, a mudança parecia estar nas mãos da juventude. “Você não sente e não vê mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo, que uma nova mudança em breve vai acontecer”, foi eternizada na voz de Elis Regina, que também assimilou a atualidade e rebeldia da época em uma interpretação que o próprio Belchior não conseguiu dar aos versos “Já faz tempo eu vi você na rua, cabelo ao vento, gente jovem reunida. Na parede da memória essa lembrança é o quadro que dói mais”, de Como nossos pais. Elis dizia que não gostaria de ouvir essas palavras ditas por ninguém mais antes dela, recupera Jotabê de uma entrevista de Belchior.
O casamento, os filhos, a vida discreta, o humor, as respostas à outras canções, as intrigas com Fagner, a personalidade marcante e enigmática e, por fim, sua retirada da cena artística, já profetizada em Comentário a respeito de John quando dizia: “Saia do meu caminho, eu prefiro andar sozinho, deixem que eu decida a minha vida. Não preciso que me digam de que lado nasce o sol, porque bate lá meu coração…”, a busca da mídia e por fim, sua morte súbita no sul do país são contadas com a riqueza de informações artísticas historicamente descritas, que só um crítico musical é capaz, mas também com a leveza, poesia e generosidade que só os fãs podem oferecer sobre seus ídolos a seus leitores. No livro Apenas um rapaz latino-americano, Jotabê Medeiros revela a vida de Belchior, mostrando que: “Amar e mudar as coisas me interessam mais…”
Livro: Belchior – Apenas um rapaz latino-americano
Autor: Jotabê Medeiros
Editora Todavia – 240 páginas
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