A hipocrisia e o fiasco da Cúpula das Américas
A Oitava Cúpula das Américas que deveria reunir os chefes de Estado de todos os países do continente foi realizada nos dias 13 e 14 de abril, em Lima, Peru. A consigna sob a qual foi convocada era “Governabilidade Democrática frente à Corrupção”, embora houvesse tentativas de incluir outros assuntos que não prosperaram. Parecia piada pronta, pois um pouco antes da Cúpula, o presidente do Peru, Pedro Paulo Kuczynski, renunciou ao mandato para não ser destituído do cargo pelo Parlamento peruano devido ao recebimento de propinas e recursos ilegais durante sua campanha eleitoral. Além disso, compareceram ao evento figuras que teriam muito o que falar sobre o tema como Michel Temer do Brasil, Juan Orlando Hernández de Honduras, entre outros do mesmo naipe.
Além disso, o governo peruano “desconvidou” o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, a comparecer, o que já seria um absurdo político por várias razões. Principalmente, por não ser um evento peruano e sim dos países do hemisfério americano. Ao final, Maduro não compareceu porque não fazia o menor sentido participar de um encontro com as características mencionadas acima. Outros governantes que também não compareceram, foram o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na última hora, e de Cuba, Raúl Castro.
O cenário político de hoje é bem diferente da conjuntura que regia as Cúpulas de anos atrás já que, atualmente, a maioria dos países da América Latina estão governados pela direita, que pouco tem investido na integração da América Latina. Se no passado a cúpula foi palco de decisões importantes como, por exemplo, o lançamento das negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) em 1994 e o seu arquivamento onze anos depois devido aos interesses opostos dos governos progressistas que se instalaram na região durante a década passada, agora ela aparece como um encontro de governantes hipócritas debatendo um assunto mais hipócrita ainda.
A começar pela localização da Cúpula, pelos motivos já expostos. O maior país da América Latina, o Brasil, estava representado pelo usurpador Michel Temer e seu governo afundado em denúncias de corrupção, enquanto o Judiciário condena o ex-presidente Lula sem provas. Sobre a Venezuela, Temer que, vale lembrar, só está na presidência do Brasil porque um golpe o colocou no poder, disse “Não há espaço na região para alternativas à democracia”. Pois, então, não há espaço para o Brasil!
O vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, fez um discurso duro contra o regime de Nicolás Maduro e não perdeu a chance de também atacar Cuba. Segundo Pence, a corrupção acontece quando as pessoas perdem a voz pela ação de governos ditatoriais. Dificilmente ele falaria isso nos anos de 1960 e 1970, quando o governo estadunidense apoiou e viabilizou os golpes e as ditaduras na América Latina ou em relação a países como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes, ditaduras que apoiam os ataques feitos pelos Estados Unidos no Oriente Médio.
Os únicos que foram coerentes em seus discursos e posições foram os representantes de governos de esquerda, como Evo Morales, da Bolívia, e o chanceler Bruno Rodríguez, de Cuba. O último criticou Pence de maneira brilhante e expôs as contradições em sua fala. Morales também não poupou saliva para criticar os Estados Unidos, dizendo que, se antes o capitalismo tinha como pretexto o combate ao comunismo para destituir e reprimir governantes eleitos legitimamente, hoje utiliza o combate à corrupção como justificativa para isso e lembrou o caso da condenação e prisão injustas de Lula.
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