A esquerda brasileira afirmou que estará unida em 2018. Durante ato realizado na noite desta segunda, no Circo Voador, Rio de Janeiro, lideranças do PT, do PSOL, do PCdoB, do PCO, do PSB, do PDT e de movimentos sociais e sindicatos defenderam a liberdade de Lula e a superação de diferenças programáticas em nome de uma luta comum. A luta contra a escalada do fascismo, a luta pela liberdade, pela democracia, pelo combate à desigualdade social e pela garantia de vida e dignidade dos trabalhadores e trabalhadoras.

Como bandeiras centrais do ato, sob a hashtag Frente Contra o Fascismo, estavam a defesa da liberdade de Lula e de seu direito de ser candidato à Presidência da República e a justiça para Marielle Franco, vereadora pelo PSOL, e para o motorista Ânderson Gomes, assassinados no último dia 14.

As palavras de ordem foram unânimes: barrar o avanço do fascismo e unir esforços e militância para combater a retirada de direitos, a mentira das grandes corporações de imprensa, o assassinato e a opressão de pobres e das minorias, a predominância dos interesses financeiros e a defesa de uma agenda comum contra a direita.

O grande destaque da noite, sem dúvida, foi a demonstração de unidade da esquerda, a despeito de algumas lideranças presentes serem pré-candidatas e, por isso, projetarem rivalidade nas urnas no segundo semestre.

Lula, que encerrou o ato, afirmou que mais importante que sua candidatura – o ex-presidente lidera as pesquisas de intenção de voto – é o combate ao arbítrio. Reafirmou sua inocência (“se encontrarem uma vírgula de crime, eu me calo”, disse) e atacou os procedimentos de parcela do Judiciário. “Eu não vou aceitar a ditadura do Moro”, afirmou, para em seguida dizer que gostaria de fazer um debate público com o juiz de Curitiba.

Ele comemorou as candidaturas de Manuela D´Ávila (PCdoB), presente ao ato, e de Guilherme Boulos (PSOL). “É um luxo”, disse. Lembrando sua própria trajetória política e a importância da democracia, reafirmou a crença na via do voto como instrumento de transformação. “É só a gente se organizar”, disse. Lula também previu uma das consequências da possível vitória da esquerda unificada: regulamentar a imprensa, indústria de mentiras e distorções. Como exemplo de desserviço midiático, citou a cobertura da morte de Marielle. “Depois que a Marielle morreu, a Globo adotou”, criticou, lembrando que se a vereadora e militante dos direitos humanos tivesse recebido em vida a mesma atenção que vem recebendo da emissora, talvez não tivesse sido assassinada.

Mônica, companheira de Marielle, e a mãe da vereadora, Marinete, compareceram ao ato e foram homenageadas pelo público e pelas lideranças e intelectuais presentes. No palco, foram abraçadas por todos. O ato de ontem à noite também recordou o assassinato dos cinco jovens de Maricá, ocorrido no último dia 25. O Circo Voador, com capacidade para mais de 2 mil pessoas, estava lotado. Do lado de fora, militantes também acompanhavam.

A presidenta do PT, senadora Gleisi Hoffmann, foi uma das primeiras a falar após a abertura do ato. Gleisi destacou a gravidade do momento pelo qual passa o Brasil após o golpe que depôs a presidenta Dilma Rousseff. “É como se tivessem aberto as portas do inferno”, disse, para em seguida delinear os inimigos: “A oligarquia, a cultura escravocrata, a ignorância do rentismo. É contra isso que devemos nos opor”.

Gleisi conclamou a militância a se manifestar na próxima quarta-feira, quando está previsto o julgamento pelo STF de recurso da defesa de Lula, e a participar de vigília diante da sede do Supremo. “A história vai nos cobrar por este momento”, disse, ao afirmar a importância da unidade da esquerda e da formação de uma “frente ampla”.

Deputado federal pelo PSOL do Rio de Janeiro, Jean Willys enalteceu Lula e destacou a necessidade de colocar as diferenças de lado neste momento, em nome do combate ao fascismo. “Minha existência simbólica tem a ver com o Lula”, disse, em referência à trajetória do líder petista como instrumento de despertar político para muitos. E acrescentou: “Os governos petistas garantiram cidadania a muita gente”.

Para a pré-candidata à Presidência Manuela D´Ávila (PCdoB), é preciso entender que o momento exige unidade. Em alusão ao mês de abril, quando se comemora o herói maior da Inconfidência Mineira, Manuela afirmou que “só há dois partidos, o de Tiradentes e o de Silvério dos Reis”. Segundo ela, a luta democrática passa pelo direito de Lula disputar a Presidência.
O ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, coordenador do programa de governo de Lula, também destacou a predominância de dois extremos. Para ele, ataques como os tiros contra a caravana de Lula e o assassinato de Marielle são exemplos da polarização. “São fascistas, não tem outro nome. Vamos derrubar a barbárie”.

“A nossa diferença não é maior que a luta de classes”, resumiu Marcelo Freixo, deputado estadual pelo PSOL do Rio. “Nós não seremos vencidos. A barbárie não pode fingir que quer fazer disputa eleitoral como alternativa”, completou, em ataque a propostas fascistas que, na opinião dele, não podem fazer parte do processo democrático, por serem contrárias a ele.
O cantor, compositor e escritor Chico Buarque compareceu. Foi destaque na primeira fila do palco, mas abriu mão de discursar. Também cantor, Caio Prado havia entoado uma canção na abertura do ato. Num dos versos, a música diz: “Não há tiros, não há covardes que apaguem o meu canto”.

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