O descaminho da infraestrutura brasileira
Não é de hoje que investir em infraestrutura constitui uma das principais estratégias para fazer crescer uma economia. Roosevelt nos EUA e JK por aqui são alguns exemplos notáveis de governantes que lançaram mão de grandes blocos de investimento em infraestrutura para impulsionar os demais setores de atividade e ainda melhorar a dita “produtividade sistêmica” de suas economias.
No período mais recente, especialmente depois da crise financeira de 2008, parece que, tanto quanto nos anos 1930 do século passado, intensificar aquela estratégia tem sido o único caminho capaz de despertar as economias da letargia que tomou conta do mundo. Embora os países avançados continuem apostando apenas da laxidão monetária, entre muitos países emergentes a expansão dos gastos em infraestrutura tem levado a resultados extremamente exitosos e servido para dar propulsão a economias que antes dependiam demasiadamente do comércio exterior para fazer girar suas engrenagens produtivas.
São os casos das economias do sul da Ásia, as quais investem, em média mais de 5% em infraestrutura, especialmente da China, cuja taxa alcança espantosos 13% do PIB, e que por conta disso tem conseguido manter suas as economias entre as que mais crescem no mundo pós-2008.
E o Brasil?
Há muito tempo, desde os anos 1970, o Brasil vem se afastando gradativamente desse caminho, entregando à sorte dos mercados o futuro de seu desenvolvimento. A taxa de investimento em infraestrutura, que era de 5,4% nos anos setenta, caiu para 2% no período FHC, recuperou-se um pouco durante o segundo governo Lula e o primeiro Dilma (2,4%), e voltou a cair depois de 2015, quando mais uma vez foi entregue aos homens de mercado a condução da economia.
Segundo estimativa da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústria de Base (Abdib), no ano de 2017 a nossa taxa de investimento em infraestrutura deve ter recuado para ridículos 1,5% do PIB (leia aqui), o que significa que nem sequer se tem conseguido repor a depreciação da infraestrutura já instalada e que ainda está muito distante a taxa mínima de 5%, recomendada como piso para países emergentes.
Como se não bastasse, primeiro pelas manobras ultraliberais do Ministro Levy e depois pela firmeza de propósitos rentistas da dupla Meirelles-Ilan, não apenas se está investindo muitíssimo pouco em infraestrutura, como estão sendo desmontados os principais instrumentos que de alguma forma ainda serviam para impulsionar minimamente o setor de infraestrutura no Brasil.
Com o esvaziamento do caixa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a extinção das taxas subsidiadas, o encolhimento da Petrobras, a provável privatização da Eletrobras e ainda por conta da estúpida imposição do teto de gastos do setor público, o Estado brasileiro se torna desaparelhado de qualquer possibilidade concreta de retomar os investimentos em infraestrutura. E não custa lembrar que, como demonstra a experiência internacional, 70% das despesas com infraestrutura dos países são financiados ou executados diretamente pelo setor público.
É simples assim: sem aparatos estatais robustos e eficazes não se faz infraestrutura em países periféricos e, sem investimentos maciços em infraestrutura, não se consegue reanimar de forma duradoura uma economia complexa e incerta como a brasileira.
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