O filme “Projeto Flórida” conta a história de Moonee (Brooklynn Prince), filha de mãe solteira e desempregada na periferia da cidade dos parques de diversão dos EUA.

A doçura e a esperteza de Moone já valem a história por si só. Precisamos aprender mais com as crianças. No entanto, a história real mora nos detalhes. Ao retratar uma situação econômica de pobreza e dificuldade nos EUA, o filme chama atenção para os reflexos da crise econômica mundial e aponta as crises éticas e pessoais dessa realidade.

Na relação com os imigrantes, no papel repressor do estado e nos dilemas da desigualdade, a história conta a realidade do que Guy Standing chamaria de precariado mundial. Não é simples e nem clara essa conexão nas produções de Hollywood. Numa produção simples e de fotografia muito bem trabalhada, Sean Baker apresenta uma trama que no primeiro momento chama a atenção pela atuação brilhante da garotinha, mas que na verdade conta muito mais sobre a nossa sociedade do que podemos imaginar.

Destaca-se primeiro a postura pouco protetora da mãe com relação a sua filha. Num contexto atual de supervalorização das individualidades e de posturas afetivas super-protetoras, a história mostra uma relação mãe-filha ao menos diferente. E que é capaz de gerar uma lógica de afeto e comportamento humano absolutamente emocionantes.

Algumas pessoas podem reagir interpretando a postura da mãe como irresponsável. Em alguns momentos a mãe de fato deixa a menina em situações de risco, mas a profundidade do detalhe de uma mulher que usa aquilo que tem a disposição na sua história e no seu processo de vida apontam para uma singela conclusão: a educação de crianças precisa apenas de muito afeto e sinceridade.

E talvez seja essa a maior lição do longa: afeto e sinceridade são essenciais para a reconstrução dessa sociedade quebrada e ferida pelo neoliberalismo. As ironias do filme nos momentos em que as pessoas da periferia encontram as dinâmicas da ostentação e materialismo dos parques de Orlando são uma fina demonstração de que não importa o tamanho do capitalismo; importam as dinâmicas reais da vida. Esse deserto do real, como diria Zizek, precisa gerar um estado de emergência. A superação da realidade da exceção se dá nos pequenos detalhes.

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