Fernando Rosa sobre o futuro: a antessala da guerra anticolonial
“O imperialismo norte-americano não tem nada a oferecer ao mundo atualmente, a não ser promover o esfacelamento dos Estados Nacionais. Assim como fez no Iraque, na Líbia, e segue fazendo em outros países, como a Ucrânia, a Síria e a Turquia, com suas revoluções “coloridas” e golpes judiciais-parlamentares-midiáticos. Movido por um espírito cada vez mais bélico, para tentar salvar-se da catástrofe, os Estados Unidos apostam na destruição das forças produtivas, das instituições democráticas e dos direitos sociais”.
Um retrato futuro que se confirma atualmente, o texto acima faz parte do artigo “O golpe é para destruir o Estado e o Poder Nacional“, publicado em 10 de agosto de 2016, em Senhor X. Uma realidade, com ações e fatos, que se torna mais evidente a cada episódio do roteiro de um Homeland tropical, escrito desde um bunker qualquer além fronteiras nacionais. Até mesmo os mais incrédulos parecem surpresos com a obviedade do caráter do golpe, descrita, por exemplo, nas exemplares entrevistas dos jornalistas Pepe Escobar e Brian Mier ao Brasil 247.
Se Sérgio Moro e Rodrigo Janot e a Lava Jato cumpriram a primeira parte da “missão”, que foi destruir as bases econômicas, sociais e, mesmo políticas, do Estado brasileiro, agora avançamos para o segundo episódio da trama. Ou seja, a consolidação da submissão, do Estado-colônia alinhado político, econômico e geopolítico dos Estados Unidos e dos interesses do capital financeiro. O novo passo, ao que parece, foi inaugurado com o assassinato da vereadora do PSOL carioca, que a Globo tenta hipocritamente capturar para desviar a agenda da luta contra o golpe.
A entrevista do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Sérgio Etchegoyen, é tão redundante em obviedades quanto objetiva em seus recados sobre o que estão planejando. Em nome do combate à violência, ele ataca a Constituição no tema do julgamento em segundo instância, ao mesmo tempo em que crítica o “uso” político do assassinato. Essas e outras observações sugerem um claro objetivo de avançar no terreno da imposição de uma “nova ordem” no terreno da segurança “pública” no Brasil.
Enquanto Trump entrega comando das relações exteriores ao diretor da CIA, aqui está em curso a tentativa de instalar uma nova “doutrina de segurança nacional”, atualizando a mesma lógica imposta no período da Guerra Fria. Naquele momento, o mote central era o combate aos comunistas, depois, no Oriente Médio, passou a ser o combate ao terrorismo internacional e, agora, é o combate às drogas. Nesse jogo, no entanto, os papéis seguem os mesmos, com os Estados Unidos posando de protetor externo, enquanto apostam empurrar as Forças Armadas para cumprir o papel de “capitães do mato”.
Também em artigo anterior, “Homeland tropical“, apontamos para a real intenção da intervenção, fato que se confirma quando os jornais noticiam que, passado um mês, não existe nem plano, nem recursos para os militares agirem. O teatro montado cumpre nova etapa do plano de “terror psico-social” das guerras assimétricas imperialistas, escrevemos. Dissemos ainda que, ao ativar o instrumento da “intervenção militar”, o comando central do golpe buscava antecipar apoios, argumentos e instrumentos “legais” para reprimir a crescente reação popular, em especial diante de possível prisão de Lula.
O assassinato encomendando da vereadora carioca, ainda com autoria duvidosa, traz à tona uma série de temas como, por exemplo, o caráter planejado e profissional da execução e a procedência das balas utilizadas. Isso extrapola os limites da investigação apenas local e coloca sob suspeita um conjunto de instituições nacionais, já fartamente comprometidas com o golpe de Estado e seus patrões externos. Em apenas dois dias, por exemplo, o governo já apresentou duas explicações diferentes para a origem das balas da Polícia Federal que mataram Marielle Franco.
Alguém disse que os tiros que mataram Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes também feriram as Forças Armadas, empurradas para uma intervenção que boa parte dos militares é contrária, como reiterou diversas vezes o Comandante do Exército, General Villas Bôas. O fato concreto é que os militares estão no Rio de Janeiro, em meio ao tiroteio, no centro de uma disputa que vai além da garantia da segurança pública. Com alto risco de desmoralização, às Forças Armadas brasileiras cabe definir seu papel, se aceitam a função de serviçais do sistema financeiro, ou se defendem a soberania nacional.
O golpe, portanto, avança para tentar consolidar-se com a prisão de Lula, o afastamento definitivo de Temer e o adiamento das eleições de 2018, para sabe-se lá quando. A tentativa de captura da agenda nacional pela Globo, como fez em 2013, aliada aos movimentos claros do Judiciário e do Parlamento, e a incapacidade dos golpistas de construir um candidato viável, acenderam a luz amarela em diversos setores da mídia. Como sempre, desde 2013, pelo menos, é decisivo compreender o caráter do golpe, identificar definitivamente seu “comando central”, seus objetivos e ajustar as formas de combate.
É ilusão acreditar que a reconstrução do País, ou do que vai sobrar dele, ainda pode se dar dentro do terreno da atual institucionalidade, com suas instituições apodrecidas e corrompidas pelos interesses externos. As forças políticas seriamente comprometidas com o futuro do País devem forjar um programa de defesa da Nação e, a partir dele, convocar todos os setores democráticos e patrióticos e mobilizar o povo para, ao que parece, uma inevitável “guerra” anti-colonial. E queiram ou não, gostem ou não, a figura de Lula é o centro popular, nacional, internacional da defesa do Brasil, dos direitos coletivos e individuais, da soberania, da reconstrução do País.
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