No dia 4 de março foi anunciado o resultado da consulta feita aos 463 mil filiados ao Partido Social Democrata (SPD em alemão) se aceitariam que o partido participasse de nova aliança com os Democratas Cristãos do CDU/CSU liderados pela atual chanceler Angela Merkel. Cerca de 378 mil filiados votaram pelo correio e 66% deles foram favoráveis a participar de um novo governo nas condições negociadas pela sua liderança.

No entanto, não foi um processo simples e tampouco uma decisão fácil. Na eleição ocorrida em 24 de setembro de 2017, praticamente meio ano atrás, o SPD obteve seu pior resultado eleitoral desde 1948 alcançando apenas 20,5% dos votos. Inicialmente seu então presidente, Martin Schulz, declarou que o partido não comporia novamente com o CDU e que iria para a oposição a um novo governo Merkel com o objetivo de resgatar os objetivos e princípios da social democracia. Merkel, por sua vez, iniciou negociações com o Partido Liberal e os Verdes para formar um novo governo que se tornou conhecido como “Coalizão Jamaica”, mas não houve acordo entre os três.

As opções então seriam um governo do CDU/CSU em minoria no Parlamento, a convocação de novas eleições ou a repetição da “Grande Aliança” CDU/CSU e SPD que garantiria uma representação de 52,5% do eleitorado alemão. Tanto os democratas cristãos quanto os social democratas não tinham interesse em nova eleição, pois provavelmente suas votações diminuiriam ainda mais, enquanto os votos da extrema direita, Alternativa para a Alemanha (AfD), tenderiam a crescer. Há pesquisas atuais que colocam este partido em segundo lugar hoje no país, à frente do SPD, o que estimulou ainda mais a busca de uma composição.

Em dezembro ocorreu um Congresso Extraordinário do SPD que por maioria de votos o autorizou a abrir negociações com o CDU/CSU para compor um novo governo. Neste congresso manifestou-se uma importante oposição à possível composição por parte da juventude do partido (Juso) e de setores mais à esquerda sob o argumento de que os valores e os votos da social democracia alemã somente seriam resgatados com o partido na oposição. O Juso tem aproximadamente 70 mil membros e se considerarmos que agora por volta de 128 mil filiados do SPD votaram contra o acordo com o CDU/CSU, também existe oposição em outros setores do partido.

O resultado das negociações daria ao SPD a possibilidade de ocupar seis ministérios, incluindo o poderoso Ministério das Finanças, até o momento, ocupado por um ministro do CDU. Os demais seriam relações exteriores, trabalho, justiça, meio ambiente e família. Martin Schulz substituiu Sigmar Gabriel na presidência do partido em 2017, supostamente por ser mais capacitado de levá-lo a um bom resultado eleitoral. Porém, sua mudança de posição à favor das negociações em vez de insistir em levar o partido à oposição ao governo Merkel conforme anunciou após as eleições e o fato de ter-se anunciado como candidato a ministro das relações exteriores, novamente deslocando Gabriel que hoje exerce o cargo, pegou muito mal ao dar a impressão que estava mais interessado em sua própria carreira do que no futuro do SPD.

Ele renunciou à presidência do SPD e foi substituído interinamente por Olaf Scholz, atual prefeito de Hamburgo e provável nome do partido para ocupar o ministério das finanças. Os demais, segundo anunciado, deverão ser dois homens e três mulheres. O novo governo será votado pelo Parlamento no dia 14 de março.

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