Taxa Selic cai, produção patina, mas bancos lucram como nunca
As estatísticas de crédito bancário divulgadas pelo Banco Central na terça-feira, 28 de fevereiro, (veja aqui) revelaram alguns números um tanto intrigantes, principalmente quando comparados à elevada lucratividade dos bancos brasileiros em 2017, quando os quatro maiores bancos de varejo (Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil) registraram em conjunto um lucro recorde de 65 bilhões de reais, alta de 21% em relação a 2016.
Mais do que a estratosférica (e renitente) rentabilidade do oligopólio financeiro que atua no país, o que mais surpreende é que tais resultados tenham se dado em um contexto de redução de 5,75 p.p. da taxa Selic e de mísero crescimento de 1% do PIB, isto é, de estagnação da renda per capita.
Para realizar tamanha proeza, os quatro grandes bancos brasileiros apostaram suas fichas na elevação dos valores dos chamados serviços financeiros (taxas administrativas, tarifas sobre operações financeiras, etc), o que lhes garantiu um faturamento de 23,2 bilhões de reais apenas com tais expedientes, isto é, 9,7% acima do que havia sido registrado em 2016. Em sentido inverso, no mesmo período o volume total de crédito concedido pelas instituições financeiras recuou 6,7% e a base de clientes encolheu 3%.
Além disso, embora os números apresentados pelo BC apontem uma ligeira queda (-0,5%.) do spread médio das instituições financeiras nos doze meses encerrados em janeiro de 2018, (de -0,3% no caso das operações de crédito para pessoa física e de -1,4% para as pessoas jurídicas), a análise por setor de atividade econômica revela que as condições de acesso ao crédito produtivo no Brasil permanecem pouco convidativas e as empresas resistem a um novo ciclo de endividamento. No caso da manufatura, por exemplo, a queda do volume de crédito concedido foi significativa (-9,8%), puxada pelos recuos registrados nos segmentos da indústria extrativa (-35%; fortemente impactada pela estratégia de desalavancagem adotada pela Petrobras), da construção civil (-16,4%) e da indústria de transformação (-10,5%).
Considerando que sob a gestão Temer-Meireles o BNDES também vem sendo desmontado, reduzindo a mais importante fonte de financiamento de longo prazo no país, o quadro geral indica que as empresas não-financeiras seguem com as barbas de molho e com baixa disposição para investir.