“Ex-Pajé” retrata a pressão evangélica no aculturamento indígena
O documentário retrata algumas violências explícitas e veladas às quais muitas tribos indígenas estão sujeitas, ao acompanhar um pouco da trajetória de Perpera, ex-xamã do povo Paiter-Suruí (MT-RO), hoje convertido ao evangelismo.
Perpera era considerado um Pajé poderoso para os Paiter-Suruí, se dedicando à saúde física e espiritual de seu povo. Mas a partir do contato com os brancos, iniciado pelos sertanistas Chico e Apoena Meireles em 1969, a realidade da tribo começa a mudar, além da exploração ilegal de suas terras e de sofrerem com epidemias mortais, os indígenas passam a lidar com o interesse externo sobre suas almas.
A atuação fundamentalista da igreja evangélica na tribo implanta a visão de que o então Pajé possui pacto com o Diabo, fazendo com que os próprios indígenas o excluam do convívio, e forçando-o também a se converter para novamente ser integrado socialmente. Em conflito interno, o próprio Pajé passa a negar seus conhecimentos e visões espirituais, que não o abandonam e passam a aterrorizá-lo. Mas com o perigo da morte rondando o dia-a-dia da tribo, a liderança do pastor é posta em dúvida e a sensibilidade do ex-pajé volta a ter relevância, fazendo com que a tribo se reaproxime de algumas de suas tradições.
A ideia inicial do diretor Luiz Bolognesi era filmar um documentário sobre os Pajés e seus conhecimentos, mas o roteiro sofreu uma drástica mudança ao entrar em contato com Perpera e decidir transformá-lo em personagem principal, mostrando então o massacre cultural a que os Pajés e suas tribos estão sujeitas, e ao que algumas lideranças indígenas no documentário se referem como o “maior problema que os povos indígenas enfrentam atualmente no Brasil”.
Na primeira apresentação do documentário no Festival Internacional de Cinema de Berlim, que está ocorrendo de 15 a 25 de fevereiro deste ano, Bolognesi transmitiu o manifesto “Mais pajés, menos intolerância” de povos e lideranças indígenas brasileiros pela tolerância, respeito, proteção a si, e com críticas ao etnocídio, que se por vezes não os destrói fisicamente, desmantela seus modos de vida e pensamento.
O documentário ainda não tem data para ser apresentado no Brasil, mas pode-se adquirir acesso e assisti-lo online via cadastro e contato com o site do Festival de Berlim.
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