Nesta quarta-feira, 21 de fevereiro, estreou mundialmente, na 68ª edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim, o documentário “O processo”, dirigido por Maria Augusta Ramos, sobre o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, em 2016.

Houve manifestações antes e depois da exibição do filme.

Duas horas antes da exibição, brasileiros e alguns alemães se reuniram na Potsdamer Platz para protestar contra o impeachment, pedir sua anulação, e também para manifestar solidariedade ao ex-presidente Lula diante da perseguição judicial que vem sofrendo – lawfare, na expressão consagrada internacionalmente.

Além dos cartazes e das palavras de ordem, houve, música, canto e dança – apesar do frio de temperatura negativa que fazia.

Esta manifestação, que começou às 16h30, terminou por volta das 18 horas, quando os manifestantes que possuíam ingressos se dirigiram para o Cinestar, nas proximidades, onde o filme seria exibido a partir das 18h30.

Sobre os números da manifestação, li de tudo. Houve comentário coxinha que disse haver 8 manifestantes. Houve números mais alentadores: um falou em 12, outro em 15, ainda outro em 30. Eu diria o seguinte: no momento de pico, haveria um pouco mais de 30. Ao longo de toda a hora e meia, passaram por ali uns 50 manifestantes convictos. Juntando os passantes que se detinham, alguns curiosos, outros apoiando, eu diria que esta manifestação mobilizou umas 100 pessoas ou pouco mais. Além dos berlinenses, veio gente de Paris, Londres e Zurique, pelo menos. Dois ou três coxinhas passaram por ali, gritaram impropérios contra Lula e Dilma. Ninguém deu muita bola para eles, foram embora. Ah sim, e havia os três policiais presentes, dois homens e uma mulher, tanto para ver se não saíamos da linha quanto para garantir que ninguém nos incomodasse (tem disso por aqui).

O mais importante a fixar é que este é um número expressivo, em se tratando daqui. Querem o quê: 30 mil pessoas? A menos 2 graus?

A sala, que tem 200 lugares, estava lotada. O filme dura duas horas e dez minutos, e consegue a difícil proeza de, neste tempo, sintetizar o que foi a abertura do processo e os debates, sobretudo no Senado, sobre o mérito da questão.

O filme é muito sóbrio. Não é neutro, mas trata os protagonistas do processo todo com imparcialidade, sem ridicularizar ninguém. Se alguém faz papel ridículo, é por sua conta. Não há uma narrativa oral: os personagens falam por si mesmos para dizer a que vieram. E aí não adianta: Bolsonaro faz o papel de Bolsonaro; Cunha, o de Cunha; Janaína, o de Janaína; Aloysio, o de Aloysio, e assim por diante. Nano há troca de papeis, nem como fugir deles.

Se o filme é longo, não é arrastado: tem um ritmo vivaz, acompanhando os debates as polêmicas por ele levantadas. Fica claro, no filme, a fragilidade, ou melhor, a inexistência de qualquer acusação consistente contra Dilma.

Do lado da defesa da presidenta Dilma Rousseff, destacam-se, sem prejuízo da importância de outras intervenções, o ex-ministro José Eduardo Cardozo, principal defensor da presidenta, a senadora Gleisi Hoffmann e o senador Lindbergh Farias. Do lado da acusação, destaca-se a formuladora do pedido de impeachment, professora Janaína Paschoal, o deputado Eduardo Cunha e senadores como Aloysio Nunes e o relator Antonio Anastasia. Embora lá pelas tantas Cunha suma de cena, defenestrado que foi depois de cumprir seu papel de abrir e consolidar a abertura do processo na Câmara de Deputados. Sai de avião, ou melhor, de camburão.

Outro papel de destaque é o da Polícia Federal, sobretudo no caso da detenção (dita desnecessária pela senadora) de Paulo Bernardo, marido de Gleisi Hoffmann.

A exibição do filme foi acompanhada por uma participação muito intensa da plateia, que aplaudia os defensores da presidenta Dilma e vaiava ou ria dos acusadores. O discurso final de Cardozo – bem como outros seus ao longo do filme – foi muito aplaudido. Ao final, a plateia aplaudiu de pé a exibição durante vários minutos, ainda mesmo na escuridão da sala.

O final do filme é emblemático. Começa (o final) com o discurso de despedida de Dilma Rousseff, em que ela prevê tudo o que está acontecendo agora: o desmonte do Brasil. Brilhante. A seguir, entram cenas da manifestação em Brasília contra a reforma trabalhista, e brutal repressão que se segue. A última cena é metafórica em relação ao futuro, que é o nosso presente: grossos rolos de fumaça escura cobrem a tela.

Depois, houve o tradicional debate que acompanha as estreias na Berlinale.

Além desta, o filme tem previstas mais três exibições até o sábado, no mesmo Cinestar, embora varie a sala. Todas elas estão com os ingressos esgotados.

Publicado originalmente no portal Carta Maior

[et_pb_top_posts admin_label=”Top Posts” query=”most_recent” period=”MONTH” title=”Mais Recentes”] [/et_pb_top_posts]

`