Intervenção militar no RJ: Homeland tropical
Estudiosos de Segurança Pública se encarregaram de desmontar possíveis argumentos técnicos que justificariam a intervenção militar no Rio de Janeiro. Por outro lado, some-se a isso o fato de que as FFAA, ou pelo menos parte delas, têm posição contrária a essa política, reiterada por diversas vezes pelo Comandante do Exército, general Villas Bôas. Resta, então, uma explicação “política”, que seria a desastrada tentativa do vassalo Temer salvar seu mandato com uma cartada de afirmação populista de autoridade.
A fragilidade dos argumentos, assim como a forma, o momento e os antecedentes da decisão apontam para outra direção, que nada tem a ver com segurança. O teatro montado, com discurso no Palácio do Planalto e pronunciamento de Temer em rede de televisão cumprem nova etapa do plano de “terror psico-social” das guerras assimétricas imperialistas. Ao ativar o instrumento da “intervenção militar” para garantir a ordem, o comando central do golpe busca antecipar apoios, argumentos e instrumentos “legais” para reprimir a crescente reação popular, em especial diante de possível prisão de Lula.
Ao lado da iniciativa oficial, por exemplo, no último dia 6 de fevereiro, São Paulo foi sede de evento para “debater” temas relacionados com a corrupção, organizado pelo FBI. Além de representantes brasileiros, estavam presentes o Supervisor Especial do FBI, entre outros chefões da agência, e dirigentes do alto escalão do judiciário e das polícias norte-americanas. Desde 2014, não por acaso no momento de alavancagem da Lava Jato e direcionamento contra o governo e o PT, o FBI aumentou investimentos e efetivos no Brasil.
Em matéria de setembro de 2013, a Folha informava que “pelo menos uma vez por semana, dois agentes da CIA chegam a um dos prédios da Polícia Federal em Brasília”. “A desenvoltura dos americanos não é por acaso: ali, os computadores, parte dos equipamentos e até o prédio, dos anos 1990, foram financiados pelos Estados Unidos”, registrava o jornal. O jornal ainda destacava, citando fontes da própria PF, que “eles dão a linha em investigações e apontam quem deve ser o alvo dos policiais federais”.
Segundo o jornalista Bob Fernandes, existem, nada mais, nada menos, que dezenove agências de espionagem norte-americanas atuando no Brasil, a partir da embaixada dos Estados Unidos, sediada em Brasília. A Polícia Federal, também de acordo com Fernandes, sempre recebeu financiamento direto da CIA, com uma cooperação estreita entre as duas instituições. “Temos o dinheiro, então as regras são nossas”, já disse o embaixador norte-americano James Derham, em 1999.
No final de maio de 2016, Peter McKinley assumiu o posto de embaixador dos Estados Unidos no Brasil, vindo do Afeganistão, depois de passar pelo Peru e pela Colômbia. Aliás, ambos países com fortes bases militares norte-americanas e, recentemente, parceiros do Brasil nas manobras militares anti-Venezuela na Amazônia. Apresentado como especialista em “conflitos internos”, McKinley substituía a embaixadora Liliana Ayalde, que viera do Paraguai, alvo de um golpe judicial-parlamentar.
Em matéria da agência Sputnik News, na época, o professor da Universidade Russa de Humanidades Mikhail Belyat afirmou que a nomeação do novo embaixador norte-americano estava relacionada com a mudança política no Brasil. “A principal missão do novo embaixador dos Estados Unidos no Brasil será ajudar o governo de Michel Temer a resolver a crise política no país”, disse ele então. O que, ao que parece se confirma a cada dia, como se fossem episódios da série Homeland.
Fernando Rosa é jornalista