Golpe de Estado no Brasil: este jogo não pode ser um a um
A Folha de S. Paulo escancarou ainda mais o espírito de saque do golpe de Estado em curso no Brasil. Em manchete defende que “privatização de 168 estatais poderia render até R$ 500 bilhões”. Uma proposta que, em qualquer país, poderia levar seu editor para a cadeia por ameaça à segurança nacional.
A Folha de S. Paulo, aliás, assumiu o papel de porta-voz dos interesses do imperialismo no país. Antes dessa manchete, já havia sugerido a “intervenção militar” na Venezuela, que resiste às ameaças de Trump. E, claro, também abriu suas páginas para FHC “deletar” Lula das eleições e vender o peixe de um “Macron” de centro.
Não é de hoje que a Folha de S. Paulo atua como uma espécie de “house organ” dos banqueiros. No período pré-FHC, produziu matérias sobre a “falência dos serviços públicos”, falsamente em nome do interesse dos cidadãos. Na verdade, apenas preparava a “opinião pública” para a privataria tucana que viria.
Com isso, fica ainda mais explícito qual é a estratégia e quais são os próximos passos dos golpistas. De um lado, o Judiciário capturado pelos interesses externos cumprirá o papel para o qual foi escalado. De outro lado, a mídia se encarregará, como faz a mesma Folha, de “desconstruir” o bode fascista que plantaram no meio da sala.
Em resumo, apostam nas eleições sem Lula para legitimar o golpe, a corrupção e a roubalheira do patrimônio nacional. É para isso que atuam neste momento a Folha, a Rede Globo, FHC e os chefes externos do golpe de Estado. Não pretendem recuar, mas também não querem um país sob tensão política, sem estabilidade social.
É por isso que a eleição de Lula não deve ser vista sob a ótica apenas eleitoral, como apostam aqueles que almejam os farelos das urnas. A presença de Lula no cenário político é um desafio ao centro do poder que conspira contra a Nação brasileira. Concorrendo ou não, é Lula e o que ele simboliza que podem impedir que o golpe se estabeleça definitivamente.
Então, como diz a canção popular, este jogo não pode ser “um a um” e menos ainda virar uma pelada com juiz ladrão. O Brasil vive um dos mais graves ataques sofridos por um país nos tempos modernos. Tão ou mais grave do que a invasão holandesa que, na época, resultou na primeira Guerra Brasílica, marco da nacionalidade.
Portanto, a bandeira “eleição sem Lula é fraude” é para hoje, para depois do dia 24 de janeiro e para o que vier na sequência. A sociedade brasileira não pode aceitar que seu destino seja traçado desde fora, atendendo interesses de outros países. O nome de Lula é a bandeira da insurgência, da soberania, da defesa de direitos, inclusive na negação de um fraudulento processo eleitoral.
Aqueles que acreditarem em soluções por meio de urnas sem legitimidade serão cobrados pela história. Já estamos pagando caro demais pela ingenuidade republicana e pela incompreensão geopolítica. O Brasil não tem futuro sem que suas lideranças e seu povo superem essa indigência político-existencial e assumam-se enquanto Nação.
A crise do imperialismo é profunda, a hegemonia unipolar dos Estados Unidos está em xeque e, portanto, eles não têm nada a oferecer. Diante disso, os povos reagirão com vigor, mais cedo ou mais tarde, e não perdoarão aqueles que abdicarem de seu papel de liderança. O melhor e mais curto caminho da luta ainda é identificar claramente o inimigo e convocar o povo para combatê-lo.
Fernando Rosa é jornalista.