Cyril Ramaphosa foi eleito presidente do CNA

O Congresso Nacional Africano (CNA) da África do Sul realizou em dezembro sua 54ª Conferência Eleitoral para compor sua nova direção executiva e principalmente eleger o novo presidente do partido em substituição ao atual que é também presidente do país, Jacob Zuma. Na África do Sul, as eleições nas três esferas – municipal, provincial e nacional – são por votos em listas partidárias que comporão, respectivamente, as Câmaras de Vereadores, Assembleias Legislativas e Assembleia Nacional. Seus componentes, por sua vez, escolhem os prefeitos, governadores e o presidente do país.

Como estes advém dos partidos ou das coalizões majoritárias, cujas listas são encabeçadas pelos presidentes dos partidos, a definição do novo presidente do CNA significou também a escolha de quem encabeçará sua lista nacional na eleição de 2019. O eleito foi Cyril Ramaphosa, que enfrentou a ex-esposa do atual presidente Jacob Zuma, que também foi ministra em seu governo e Secretária Geral da União Africana, Nkozazana Diamini – Zuma.

Matamela Cyril Ramaphosa iniciou sua militância política no movimento estudantil sul-africano quando se formou advogado ao final dos anos 1970 e foi atuar no movimento sindical tornando-se o primeiro secretário geral do Sindicato Nacional dos Mineiros (National Union of Mineworkers – NUM) fundado em 1982. Posteriormente fez parte do comitê de enlace entre a Central Sindical – COSATU e o CNA. Em 1991 foi eleito Secretário Geral do CNA e presidiu o Comitê de Desenvolvimento da África do Sul (CODESA) que definiu a transição entre o regime de Apartheidpara a democracia. Eleito deputado federal na lista encabeçada por Nelson Mandela que se tornou o primeiro presidente negro da África do Sul em 1994, Ramaphosa presidiu a Assembleia Nacional Constituinte até 1996 quando renunciou ao cargo e também à secretaria geral do CNA para se dedicar a atividades empresariais.

Ele enriqueceu nesta nova atividade e tornou-se dirigente de várias sociedades acionárias, incluindo uma empresa de mineração multinacional chamada Lonmin. Em 2012, os trabalhadores de uma das minas de platina desta empresa situada na localidade de Marikana entraram em greve, sem envolvimento do sindicato (NUM). A greve foi reprimida pela polícia que assassinou 34 trabalhadores durante uma manifestação. Descobriu-se posteriormente que Ramaphosa foi um dos empresários que solicitou o reforço do policiamento contra a greve. Ele se desculpou posteriormente e alegou que “o policiamento foi solicitado, pois a greve estava descontrolada e dois seguranças da mina haviam sido mortos, mas que sua intenção não era provocar mais violência e sim evitá-la”.

Ele que já era vice-presidente do CNA na chapa de Zuma, eleita em 2014, disputou agora a eleição interna com uma campanha anti-corrupção, o que o colocou contra o atual presidente que é constantemente acusado de receber propinas de diversas origens, o que este nega. No entanto, há muitas afirmações que o apoio à sua ex-esposa e aliada política seria para assegurar sua impunidade quando deixar a presidência da África do Sul em 2019. Ramaphosa recebeu 2.440 votos contra 2.261 de Nkozazana, uma diferença de apenas 179 votos, menos de 4%. No entanto, apesar de vencer as internas, a composição da nova executiva não é majoritariamente pró Ramaphosa, o que poderá limitar suas ações.

O CNA é, sem dúvida, a maior força política da África do Sul e possui o prestígio de ter sido o principal opositor ao Apartheid e ter implementado governos de maioria negra desde 1994. Porém, também carrega o peso de não ter sido capaz de promover uma melhor distribuição da riqueza do país e a maioria da população ainda vive na pobreza e sofre com o desemprego. Os governos de Thabo Mbeki e de Jacob Zuma, que sucederam Mandela, implementaram políticas de austeridade e de ajustes neoliberais que em nada contribuíram para o progresso do país e, atualmente, a percepção da corrupção é generalizada.

Nas eleições municipais ocorridas em 2016, o CNA foi derrotado por coalizões oposicionistas em várias cidades importantes como Johanesburgo, Tswane (ex-Pretoria), entre outras, numa clara mensagem da insatisfação do eleitorado. A ver o que ocorrerá em 2019.

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