Nacos de sossego do cozinheiro sérvio
Se você chegou até esta página, muito provavelmente é porque, assim como eu, anda escarafunchando em demasia neste universo caótico e controverso a que fomos brindados com a internet. A canseira é geral e muita gente boa já vem alertando para a necessidade de segurar a onda, sob pena da intoxicação informacional tornar a vida insuportável.
Do lado de lá do mundo, perdido numa região montanhosa da Sérvia, um sujeito munido de uma tábua, de uma respeitável faca de cozinha e acompanhado por seu sobrinho de câmera na mão, farejou nossos anseios por paz de espírito e resolveu colaborar de forma inusitada: grava vídeos de poucos minutos apenas mostrando o que é capaz de cozinhar reunindo alguns ingredientes comuns e meia dúzia de gravetos.
Sim, até aí, nada de novo. São trezentos mil malucos produzindo vídeos do gênero, sobre as coisas mais diversas, todos os dias. Porém, o que encanta na experiência culinária do tal sérvio é que ele faz do seu ato de cozinhar uma experiência de ASMR (na sigla em inglês: Resposta Sensorial Autônoma do Meridiano), isto é, uma técnica de relaxamento audiovisual que faz muito sucesso no youtube, misturando sons e imagens que levam o cérebro a um estado de semiconsciência não só muito agradável, como cada vez mais raro.
Sem pronunciar uma única palavra, nem sequer informar as proporções dos ingredientes que utiliza, o misterioso cozinheiro – frequentemente encapuçado e raramente visível por inteiro à câmera – senta na beira de um rio pedregoso ou na lareira de um rancho velho e, sem pressa, vai preparando suas iguarias.
Colhe umas ervas no mato, junta à ricota que trouxe de casa, faz uma massa de trigo com a farinha que estava na cumbuca, …. até que num desfecho lógico termina produzindo um suculento e delicioso ravióli.
Mas o busílis da história, o borogodó da experiência perceptual do tal Almazan (esse é o sobrenome do cara) está nos barulhinhos produzidos pelos movimentos repetitivos de sua faca, nos estalidos da lenha, na sonzeira do bacon que esturrica na chapa quente. Com a câmera sempre muito próxima das fontes de ruído, o espectador vai se engalfinhando nessa trama de sentidos a ponto de se esquecer entre os aromas que dali transbordam.
Curioso é que quando voltamos ao mundo, para escovar os dentes, trancar a porta ou simplesmente fritar um ovo, os sentidos seguem ainda alterados por um bom tempo e cada pequeno ruído desponta com muito mais caráter do que costumávamos notar. A fome, é claro, também desperta, assim como a vontade de cozinhar. Experimente.
Para a entrada, seguem dois vídeos:
Egg Ravioli
Bacon Burguer
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