A nova política: nada mais velho do que se autodeclarar o novo
Nada mais velho do que se autodeclarar o novo.
Desde que me conheço por ser político, sempre há quem se vista sob o manto da novidade. É um discurso tão sedutor quanto falso.
As agendas políticas que vêm ganhando espaço na esquerda não são novas, e esse espaço é produto da luta, da formulação e da autoorganização de tempos. A reação a essas bandeiras não é nova, tampouco inesperada. A tática da apresentação de empresários, apresentadores de TV ou pseudocelebridades em geral como alternativa aos “políticos” não é nova, porque a negação da política não é nova. Construir um partido com lindo e moderno layout que gira em torno de uma candidatura à Presidência da República não tem absolutamente nada de novo.
Vejo as velhas práticas de sempre em tudo que se autodenomina “o novo”. Personalismo, fisiologismo, vale-tudo na disputa interna, centralização de decisões.
Não tenho nenhum fetiche quanto ao “novo”. Pra falar a verdade, gosto de um monte de coisas que são velhas, no sentido de terem sido concebidas há muito tempo.
Mas é que, para mim, certas ideias formuladas há bastante tempo não perderam a validade, não envelheceram, e não porque “os sonhos não envelhecem”. Mas sim porque não foram testadas em sua plenitude. Não tiveram chance de serem desenvolvidas.
Estive em muitos espaços políticos nos quais a intervenção mais inovadora veio do militante mais velho, que, por meio de ideias que nos acolhem desde antes de nascermos, aponta para um lugar ao qual nunca conseguimos chegar, percorrendo um trajeto que, até hoje, nunca ousamos percorrer. Ao mesmo tempo, cansei de ver gente jovem acostumar-se a vícios políticos e degenerações de variadas espécies muito mais e muito antes que aqueles(as) que lá estão há mais tempo.
A chave da “renovação” é válida, mas ela tem limites. É bom que tenhamos novos porta-vozes para o mesmo projeto. Mas quero saber qual o projeto. Quero saber: renovar em que bases?
A dualidade velho/novo, na política, é vazia. Velho e novo não encerram qualidade a priori. Às vezes, é o que chamam de velho que abre caminho para o novo momento.