Nota sobre o documento “Gente em primeiro lugar: o Brasil que queremos”
O documento “Gente em primeiro lugar: o Brasil que queremos”, lançado pelo PSDB e pela Fundação Teotonio Vilela, coloca como mérito do PSDB todos os avanços ocorridos no Brasil após a redemocratização. Nada poderia ser mais falso. O papel tudo aceita, mas não foram preocupações práticas dos governos FHC a manutenção da renda ou redução da concentração da riqueza, como diz o documento. Prova é que alterações na legislação trabalhista impactaram a renda dos trabalhadores, e a renda se concentrou durante o governo PSDB.
Os dados socioeconômicos do Brasil mostram clara inflexão na rota do Brasil após 2003: foi a partir dos governos do PT que houve redução drástica da pobreza, queda da desigualdade da renda do trabalho, avanços em direção a uma reestruturação do mercado de trabalho e a chegada a patamares mais altos de crescimento econômico, se comparados ao período FHC. No entanto, ao contrário do que dizem os dados, o documento afirma que regredimos e empobrecemos nos governos do PT.
O documento defende que o legado do governo FHC foi “exaurido pelo populismo e pela irresponsabilidade dos governos petistas”. Faltaria então analisar, nos termos do próprio documento, qual foi a média de superávit fiscal nos governos do PT e nos governos FHC.
Um ponto importante do documento é a defesa, de um lado, das privatizações e concessões, mas, de outro, a defesa de serviços públicos de qualidade. Faltou explicar ao Brasil como é possível conciliar as duas opções. Privatizações e concessões foram marca dos governos FHC, que entregaram a preço de banana riquezas do povo brasileiro e instrumentos de política econômica e política pública, além de terem criado mecanismos pouco transparentes de privatização da política social, como por meio das OSs. Por outro lado é uma demanda da população ter acesso a serviços públicos de qualidade.
Ao final, o documento ainda postula que para vencer a crise de representatividade atual seria preciso “democratizar a nossa democracia e radicalizar a cidadania”, para recuperar a confiança na política, nas instituições e no país. Ora, o PSDB é parte fundamental do falido governo Temer e ocupa três ministérios no governo atual (inclusive o de Relações Exteriores, sendo que no documento não há menção sobre a questão internacional), que reiteradamente lança mão de conchavos para a manutenção de privilégios e de Temer no poder, o que retira a fé dos brasileiros nas instituições.
O PSDB ainda apoia a aprovação de reformas e outras medidas muito substantivas (como a Emenda Constitucional 95 e a Reforma Trabalhista) de forma atropelada, sem suficiente discussão com a sociedade. Qual é o conceito de democratização da democracia para o documento do PSDB?
Finalmente, um dos pontos altos do documento é a defesa de um Estado “nem máximo, nem mínimo”, mas musculoso e eficiente. Parece ser uma tentativa de se colocar como uma alternativa moderada no debate político. Mas a análise dos governos FHC e do programa do PSDB ao longo dos anos não deixa dúvidas: o PSDB não é moderado. Nos anos 1990, os tucanos venderam patrimônio brasileiro e redirecionaram os esforços para o pagamento de altíssimas taxas de juros, a fim de manter os interesses dos mais privilegiados em detrimento dos brasileiros mais vulneráveis. A não ser que seja moderada a escolha de estar do lado dos mais ricos, às custas dos mais pobres.
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