Nota pública: por um semiárido vivo, resistiremos!
Por: Articulação Semiárido Brasileiro (ASA)
A Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), fórum onde se encontra organizada parte significativa da sociedade civil do semiárido brasileiro, assim como toda a classe trabalhadora brasileira, tem sentido no dia a dia as dificuldades impostas pelos cortes nos gastos públicos, impostos pelo Governo Federal desde o ano de 2016.
A atual política econômica brasileira continua em curso fortalecendo o grande capital em detrimento dos direitos do povo. A nova proposta de orçamento para 2018, apresentada pelo Governo Federal ao Congresso, reforça a opção do Estado brasileiro em fragilizar e até mesmo acabar com os programas sociais, políticas de educação e agricultura, e com os projetos de infraestrutura voltados para os mais pobres. A cada dia o “progresso” proposto pelo Governo Temer está mais distante do povo.
Para 2018, está prevista uma suplementação de R$ 44,5 bilhões para todas as ações executadas com recursos públicos. Deste total, apenas 0,5%, o que equivale a R$ 225,5 milhões, foi alocado nas ações de agricultura familiar. Os cortes no orçamento em políticas de inclusão das famílias em situação de pobreza são de 52,5%. Com isso, pode-se afirmar que as populações pobres das áreas rurais são as mais atingidas com essa política econômica, cuja dotação do programa para a construção de cisternas, por exemplo, reduziu de R$ 248,8 milhões, constante na Lei Orçamentária Anual (LOA) 2017, para R$ 20 milhões no Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) 2018 (apenas 8% do recurso disponível em 2017 e 6% do recurso de 2010), ou seja, um corte de 92%, praticamente acabando com o Programa Cisternas. No caso do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) que, em 2017, contava com R$ 318 milhões, tem apenas R$ 750 mil para 2018, ou seja, um corte mais grave, da ordem de 99,8%, colocando em risco o abastecimento alimentar do país.
Para a Política de Segurança Alimentar e Nutricional, cujos principais fornecedores são da Agricultura Familiar, o corte chega a 84,42%. Além do corte em órgãos estratégicos para o setor, como a Secretaria Especial da Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário (Sead), que terá o seu orçamento geral reduzido de R$ 1,03 bilhão em 2017 para R$ 790 milhões no próximo ano; a habitação sofrerá cortes de R$ 6,9 bilhões para R$ 0,00; e os recursos para obtenção de terras da reforma agrária serão reduzidos de maneira drástica de R$ 108 milhões para R$ 34,2 milhões.
Os números evidenciam a deliberação do atual governo em priorizar a política econômica de mercado – responsável por 80% do déficit público – privilegiando os mais ricos com excessivas e constantes renúncias fiscais, em detrimento da garantia dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras e negando o impacto positivo dessas políticas na vida dos povos do campo. A atual política econômica brasileira é uma ameaça a todas as conquistas da sociedade civil, fruto da luta de anos e da abertura dos governos anteriores, com adoção de políticas comuns que respeitavam a diversidade dos territórios e dos povos e comunidades tradicionais.
Elas foram decisivas para que o Brasil saísse do Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU) e lutaremos para não permitir que esse retrocesso se concretize e aprofunde. Além disso, o fortalecimento de espaços de controle social, como é o caso dos conselhos, a exemplo do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) e o recém-extinto Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (Condraf) foram fundamentais nesse processo de transformação social, pois reconheciam o conhecimento popular. Em relação ao Condraf, pode-se falar em sua extinção, se não formal, mas pelo esvaziamento drástico de suas competências e da perspectiva de participação social. Acabar com esses espaços aumenta ainda mais o abismo social.
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